Biosseguridade, Frangos de Corte, Outras doenças, SAÚDE INTESTINAL
Manifestações clínicas, toxinas envolvidas e achados de necropsia da enterite necrótica
O gênero Clostridium é constituído por bactérias gram-positivas, anaeróbias, imóveis, esporuladas, em forma de bastonetes, e engloba aproximadamente 150 espécies. Essa capacidade de formar esporos permite que estes microrganismos possam ser facilmente encontrados no meio ambiente, onde inclusive têm a habilidade de formar biofilmes que os fazem suportar condições climáticas intensas. Um aspecto importante que caracteriza o Clostridium perfringens, agente causador da enterite necrótica, é sua propriedade de produzir uma grande quantidade de toxinas. Esta grande diversidade de toxinas permite que o Clostridium perfringens cause diversas doenças, com as mais variadas manifestações clínicas, tanto em humanos quanto em várias espécies animais (veja tabela 1 abaixo).
Tabela 1:
Tipos |
Toxina principal |
Manifestações clínicas |
A |
α |
Infecção de feridas em humanos (gangrena gasosa ou mionecrose clostridial), enterite necrótica em aves, abomasite ulcerativa, enterite necrosante leve em leitões e endotoxemia em camelídeos da América do Sul. |
α, CPE |
Intoxicação alimentar em humanos, doenças gastrointestinais não-alimentares em humanos e diarreia em animais como cães, porcos e potros. |
|
α, β2 |
Doença gastrointestinal em suínos. |
|
B |
α, β, ε |
Disenteria e enterite hemorrágica em cordeiros e cabritos. |
C |
α, β |
Enterite necrosante em humanos, enterite em cães, galinhas camelídeos da América do Sul. |
α, β, β2 |
Doença gastrointestinal em suínos. |
|
D |
α, ε |
Enterotoxemia em ovelhas e cabras (doença do rim pulposo). |
E |
α, ι |
Enterotoxemia em coelhos, cães, gado e ovelhas |
F |
α, CPE |
Intoxicação alimentar humana e diarreia não-alimentar. |
G |
α, NetB |
Enterite necrótica subclínica em galinhas. |
A toxina α (alfa) é o fator de virulência mais estudado devido ao seu rápido efeito letal e durante muito tempo foi tido como o único capaz de levar as aves a um quadro de enterite. Em 2008, descobriu-se outro fator para a virulência: a toxina NetB (necrotic enteritis B-like toxin), de origem plasmidial e com atividade de formação de poros na membrana das células. Essas toxinas destroem a integridade das membranas celulares da parede intestinal, causando um extravasamento de conteúdo celular que servem como nutrientes para as bactérias. Caso haja comprometimento das células imunes, a resposta imunológica pode ser afetada. Outros mecanismos de virulência também têm papel na patogenicidade do Clostridium perfringens, são eles: bacteriocinas, adesinas, neuraminidases etc.
No momento da eclosão dos ovos, os pintinhos apresentam seu trato gastrointestinal livre de microrganismos. Porém, nas primeiras horas de vida algumas bactérias como Streptococcus faecalis e E. coli tornam-se prevalentes. Após a primeira semana, espécies de Lactobacillus predominam no intestino delgado, enquanto no ceco espécies do gênero Clostridium estão entre as primeiras bactérias a colonizar essa porção do intestino, juntamente com Fusobacterium, Bifdobacterium, Eubacterium. Essa microbiota diversa e numerosa é a responsável basicamente por regular a atividade enzimática, a velocidade do trânsito alimentar, a absorção de água, eletrólitos e nutrientes, a renovação celular e outros mecanismos essenciais. Por conta disso, há uma grande atenção por parte da indústria em manter este ambiente em perfeita harmonia e funcionamento, pois alterações de ordem intestinal trazem graves consequências para a produção.
Em frangos de corte, apresenta-se com um aumento repentino da mortalidade, ocorrendo a qualquer momento, quando as aves estão geralmente entre as duas e seis semanas de idade. A mortalidade pode atingir até 1% ao dia e quando não tratado, o quadro perdura por uma a duas semanas. Nos surtos, as aves manifestam depressão severa, penas eriçadas, anorexia e diarreia (muitas vezes de coloração escura com manchas de sangue). Pode-se observar desidratação grave com escurecimento da musculatura peitoral e a duração dos sinais clínicos, em alguns casos, pode ser muito curta e com possibilidade de morte súbita.
É a forma subclínica crônica que muitas vezes não é detectada, causando grandes reduções nas taxas de crescimento e conversão alimentar e, portanto, sendo responsável pelas maiores perdas econômicas. Tornou-se prevalente nos últimos anos e é caracterizada por má digestão, ganho de peso reduzido e alta taxa de conversão alimentar, sem aumento óbvio na mortalidade. Esses sinais de doença, entretanto, não são específicos. Quando houver suspeita de enterite necrótica acometendo o lote, as aves devem ser submetidas à necropsia. É característico dessa enfermidade a presença de lesões necróticas típicas no trato intestinal, observadas na imagem abaixo.
As lesões acometem principalmente jejuno e íleo, variando de acordo com a gravidade da doença. Distensão das alças intestinais por presença de gases, cecos distendidos e friáveis, hepatomegalia, vesícula biliar distendida, congestão hepática e com possível presença de pontos necróticos, mucosa rugosa e de coloração enegrecida a cianótica e odor fétido durante o exame post-mortem
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Autor:
Antônio Neto – M.V Serviços Técnicos | Zoetis – Aves
Antônio neto
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