Cães, Gatos, Imunização

Frequência sorológica de Leptospirose no Brasil

Médico-veterinário cuidando de um cão

A leptospirose, doença zoonótica de importância mundial que acomete muitas espécies de animais, é causada pela infecção por espiroquetas da espécie Leptospira interrogans sensu lato.
  • A nomenclatura e a taxonomia das leptospiras são complicadas, pois, antes de 1989, foram classificadas inicialmente com base no seu isolamento em cultura e reatividade imunológica. Uma reclassificação subsequente utilizou a tecnologia genética. Classicamente, o gênero foi dividido em duas espécies: L. interrogans sensu lato, que contém todas as cepas patogênicas e Leptospira biflexa sensu lato, que contém todas as cepas saprofíticas do ambiente. Nestes dois grupos de leptospiras, foram identificados diferentes sorovares. Os sorovares são  antigenicamente e, com frequência, epidemiologicamente distintos em determinada espécie. Mais de 250 sorovares de L. interrogans foram descritos e ainda classificados em sorogrupos antigenicamente relacionados, dos quais pelo menos 10 são importantes em cães. O termo sorogrupo define sorovares que compartilham antígenos comuns, que levam frequentemente a reações cruzadas com métodos de detecção por anticorpos. Embora, os sorogrupos não tenham, no momento atual, nenhuma base taxonômica, eles foram historicamente úteis para estudos epidemiológicos e para a compreensão da doença. Nos casos em que o diagnóstico é estabelecido por meios sorológicos e a bactéria não pode ser cultivada ou geneticamente identificada, a reatividade do sorogrupo constitui, tecnicamente, o maior nível de incriminação passível de ser estabelecido. Os sorovares são mantidos na natureza por numerosos mamíferos silvestres e domésticos reservatórios, que são espécies usualmente infectadas sem que a maioria dos animais da população apresente doença e são chamados também de hospedeiros de manutenção.

  • Como identificar os sorovares?

    A Cultura bacteriana é uma técnica importante para ampliar a compreensão da epidemiologia da leptospirose, através do isolamento da leptospira, mas é necessária a realização de outros testes para o diagnóstico, visto que, se não for estritamente controlada, a cultura será relativamente insensível e o tempo necessário para a obtenção dos resultados será longo. As amostras devem ser obtidas antes de se iniciar a terapia bacteriana. O sangue é a melhor amostra para a cultura nos primeiros 10 dias de doença, e depois desse período, as amostras de urina são ideais. A urina pode estar contaminada pela flora normal, que interfere no crescimento das leptospiras, por este motivo,  prefere-se a cistocentese.  Existe um reconhecimento em relação a importância da cultura e isolamento bacterianos para determinação dos melhores sorovares vacinais, porém o número de isolamentos no Brasil é muito limitado.

    A técnica de Reação em cadeia da Polimerase (PCR), apesar de ser específica e sensível, não determina o sorovar infectante. Animais sem sintomas e resultados positivos na urina podem ser simplesmente portadores (reservatórios ou animais em fase de recuperação que estão eliminando a leptospira na urina).

    A Soroaglutinação microscópica (SAM), apesar de possuir uma série de limitações (tabela 1), é considerada a técnica padrão para diagnosticar leptospirose em cães. Ela basea-se na capacidade de os anticorpos antileptospira produzidos por um cão, aglutinarem em meio líquido espécimens de leptospiras pertencentes a vários sorovares. Em laboratório, são feitas diluições das amostras de soro a serem testadas, as quais são misturadas às culturas de leptospira em uma concentração padrão. A SAM é a técnica utilizada por pesquisadores para fazer levantamento de frequência sorológica de sorovares de leptospira em uma determinada região (veja tabela 2).

Tabela 1

Tabela 2: 

Concluindo, no Brasil, diversos sorovares de Leptospira tem sido identificados em cães por meio da técnica de soroaglutinação microscópica. O sorovar mais prevalente, baseado na tabela 2, é o sorovar canicola. O cão é considerado reservatório primário deste sorovar e pode ser por esta razão que é o mais encontrado. Sorovares como Icteroahemorragiae, Pomona, Grippotyphosa, Copenhageni, Pyrogenes, Autumnalis e Bratislava também apresentaram uma prevalência elevada.

Em vista da gravidade da leptospirose, a inserção de 4 sorovares (Canicola, Icterohaemorrhagiae, Pomona e Grippotyphosa) com base na SAM, é a medida mais cautelosa de prevenção. O COLAVAC (Comité Latino Americano de Vacunología em Animales de Compañia) sugere a utilização de vacinas contendo estas 4 cepas de leptospiras.

A Zoetis possui no seu portifólio vacinas que conferem proteção contra leptospirose em cães: Vanguard HTLP é uma vacina polivalente (V8) que confere proteção contra Parvovirose, Cinomose, Hepatite infecciosa canina, Adenovirose, Parainfluenza, Coronavirose e contra  os sorovares Canicola e Icterohaemorragiae;  Vanguard Plus (V10) confere proteção contra Parvovirose, Cinomose, Hepatite infecciosa canina, Adenovirose, Parainfluenza, Coronavirose  e os sorovares Canicola, Icterohaemorragiae, Pomona e Grippotyphosa; e a  Guard Vac que é uma vacina que protege contra os sorovares Canicola, Icterohaemorragiae, Pomona e Grippotyphosa.