Cães, Imunização

TRATAMENTO DA DRIC

Em posts anteriores abordamos alguns aspectos da doença respiratória infecciosa canina (DRIC) e dessa vez falaremos um pouco sobre o tratamento da doença. Já sabemos que o diagnóstico na maioria das vezes é realizado com base na manifestação clínica e histórico do paciente, sendo assim um tratamento empírico costuma ser realizado de acordo com os sinais apresentados e a gravidade destes. Abaixo discutiremos o uso de algumas classes de medicamentos comumente empregados em pacientes com DRIC.

Quando falamos de doença respiratória infeciosa em cães o primeiro sinal clínico que nos vêm em mente é a tosse, visto o incomodo gerado não apenas para o paciente mas também para as pessoas que convivem com ele. Em razão disso, antitussígenos são utilizados em muitos casos, justificado pelo transtorno e desconforto gerados por um animal tossindo. Normalmente seu uso fica restrito a casos não complicados e na ausência de sinais clínicos adicionais, embora seu uso seja controverso, visto que a tosse representa um mecanismo de defesa do organismo e, portanto, suprimi-la para alguns médicos veterinários pode não ser visto como algo positivo. O uso de broncodilatadores (sozinho ou em combinação com antitussígenos) pode prevenir broncoespasmo e promover alívio da tosse em alguns casos, representando também uma alternativa terapêutica.

O uso de antimicrobianos na DRIC é algo bastante discutido e que também divide opiniões entre os profissionais. Em casos não complicados de DRIC, o valor do tratamento antimicrobiano pode ser limitado, no entanto, a decisão em administrar deve ser levada em consideração frente ao risco de infecções bacterianas secundarias causadas por bactérias oportunistas. Das opções terapêuticas, doxiciclina é geralmente o antibiótico de escolha por apresentar boa eficácia para B. bronchiseptica e mycoplasma. Amoxicilina com clavulanato de potássio (Synulox®), sulfa + trimetropin e gentamicina (nebulização) também são boas escolhas para Bordetella. A terapia antimicrobiana intravenosa é recomendada se infecção no trato respiratório inferior estiver presente ou sepse for uma suspeita, lembrando sempre que a escolha antimicrobiana, se possível, deve ser guiada por cultura e antibiograma, com base nos princípios do uso racional de antimicrobianos.

A utilização de glucocorticoides normalmente fica restrito a pacientes com doença respiratória não inflamatória e crônica. No entanto, doses anti-inflamatórias podem melhorar a frequência e intensidade da tosse de pacientes com DRIC não complicada, sendo recomendado tratamento por até 5 dias. Nos casos de uso concomitante com antibióticos o uso de antimicrobianos bacteriostáticos, como por ex. doxiciclina, deve ser evitado, preferindo-se o uso de amoxicilina com clavulanato de potássio ou fluorquinolonas. De forma geral, o uso de glucocorticoides é restrito uma vez que seu benefício pode não ser muito evidente.

A nebulização (solução salina + oxigênio) é uma alternativa para pacientes com DRIC, onde se beneficiam principalmente pacientes que apresentam acúmulo de secreção brônquica e/ou traqueal e também aqueles com infecções secundárias, principalmente as ocasionadas por B. bronchiseptica. O uso de agentes mucolíticos na nebulização não apresenta benefícios, além de poder ser irritante e induzir broncoespasmo, já o  uso dos glucocorticoides para nebulização em quadros que acompanham tosse paroxística que podem levar à obstrução de vias aéreas  pode apresentar alguns benefícios, embora não se tenha estudos suficientes para evidenciar essa utilização.  

Outras opções terapêuticas na expectativa de reduzir a intensidade e duração dos sinais clínicos são por vezes utilizadas. Como exemplo temos as terapias antivirais, a vacinação intranasal e o uso de expectorantes. Sobre essas opções é importante falar que seus benefícios não estão estabelecidos, uma vez que não há evidências científicas que comprovem e sustentem a aplicabilidade sugerida.

Tratamento de suporte, monitoramento do paciente e cuidados intensivos são cuidados adicionais recomendados principalmente para cães com pneumonia ou outras complicações. Em resumo, o tratamento da DRIC é estabelecido de forma individual conforme quadro clínico apresentado pelo paciente, visando a redução e intensidade dos sinais clínicos, principalmente a tosse, e evitando infecções oportunistas que possam agravar o quadro.