Cães, Imunização

O programa de imunização individualizado

Cachorro sentado

Ao ter em suas mãos um filhotinho, um dos primeiros cuidados é a imunização. comumente, no momento da consulta pediátrica várias orientações são feitas, como os cuidados básicos de higiene, manejo diário de passeios, momento de iniciar essa etapa, socialização com outros cães e de modo enfático as medidas de prevenção que devem ser iniciadas nessa fase e que duram por toda a vida.

Certamente a recomendação de qual vacina escolher para o programa de imunização deve fazer parte da avaliação inicial. Pontos importantes nessa conversa como a região que mora e os lugares que frequentam, como casa de praia e casa de campo, além de intenções de uso de Day care ou Creches devem ser questionados e assim ser mostrado a importância de montar um esquema de proteção individualizado.

Outro fator a ser levado em consideração é o momento de se começar a imunização. Entre 45 e 60 dias se preconiza esse início, de modo que o esquema dessa primeira vacina escolhida que é a múltipla, deve ser findada após 03 ou 04 doses com intervalos de 21 dias e entre 12 e 16 semanas de vida. A data de término do protocolo é importante para alguns filhotes, em especial aqueles que foram oriundos de pequenas ninhadas e que houve a possibilidade de ficar em contato materno prolongado, com o fornecimento do aleitamento materno por parte de uma mãe (cadela) imunizada. Assim,  o termino do protocolo inicial indicado é  após as 16 semanas de vida. Esta preocupação diz respeito a redução da interferência dos anticorpos maternos no processo da resposta imune do filhotinho. A vacina em questão, conhecida como v10, protege os animais contra os principais antígenos infecciosos que acometem os filhotes e são capazes por vezes de levar animais sucetíveis à morte. Cita-se como principais patógenos o parvoviros, o vírus da cinomose,  o vírus da hepatite infecciosa canina e diferentes cepas de leptospira. É uma vacina considerada essencial e o animal deve receber reforços anuais durante toda  sua vida.

Nos casos de animais que moram em região onde a leptospirose é uma doença comumente diagnosticada ou o desafio com ratos é constante, recomenda-se a realização de reforço 6 meses após a v10 da vacina específica para leptospirose, caso esteja disponível. Quando não for possível, o reforço pode ser feito com a própria vacina múltipla.

A outra vacina extremamente essencial é a  vacina que produz resposta imunológica  contra o vírus rábico. O Brasil está dentre os países onde esse vírus não é erradicado e nas áreas urbanas está comumente associado a acidentes com morcegos. Não raro os centros de Zoonoses referem realizações de busca ativa de morcegos e quando investigados não raramente estão infectados pelo vírus da raiva. Por ser uma doença fatal e uma importante zoonose, a imunização é essencial. Vale salientar que quando pensamos em personalizar protocolos vacinais esta não é uma vacina que pode ser removida dos protocolos, mesmo em casos de pacientes que tiveram doenças imunomediadas ou ainda para aqueles tutores de felinos que muito se preocupam com a ocorrência de sarcoma vacinal (Neoplasia maligna associada/induzia pela resposta inflamatória devido ao trauma causado pela agulha). Outro argumento ainda por parte dos tutores de felinos vem daqueles que moram em apartamento e uma vez que os animais não tem acesso a rua regularmente, não precisariam se expor ao “risco” da imunização. Contudo é salutar lembrar que os morcegos raivosos perdem o censo de orientação e não raro adentram em apartamento, assim, a vacinação contra o vírus rábico deve acontecer para todos os animais.

A vacina contra giárdia também iniciada na fase juvenil e mantida por toda a vida, com reforços anuais, é uma vacina contra um protozoário e por isso tem objetivo mais abrangente que as vacinas virais rotineiras. Devido a contaminação oro fecal da giardia,  a vacina deve ser empregado especialmente em duas situações: 1- Nos casos de animais que frequentam regularmente creches, Day care, encontros ou parques caninos. 2- Em casas onde o contato entre o tutor e o animal é muito próximo, como compartilhamento de cama. Ressalta-se a importância  para cães que convivem com crianças em fase de engatinhar. Essas indicações são feitas uma vez que um dos objetivos desta vacina é que o animais infectados eliminem oocistos não viáveis a infectar outros, sejam estes caninos ou humanos. Outro benefício associado a este biológico é que os animais infectados não adoeçam ou produzam doença com manifestação clínica branda e sem os famosos e inconvenientes desconfortos gastro entéricos causado pela giardíase.

Também faz parte do protocolo individual do paciente e deve ser acrescentada de acordo com o risco vivido é a vacina contra a leishmaniose. A Leishmaniose visceral canina é uma doença existente nas cinco regiões brasileiras e praticamente em todas as unidades federativas e no Distrito Federal. Alguns municípios são endêmicos e requer medidas de controle e prevenção da doença de forma mais intensa. Por ser uma enfermidade transmitida por vetor, o flebotomínio, a vacina não impede que a infecção ocorra, para tanto, deve ser usado produtos como colares e/ou pipetas repelentes e inseticidas. A imunização para este protozoário tem como objetivo principal de regular a resposta imune de modo que se a infecção no paciente imunizado ocorra, este tenha um predomínio de resposta celular e por isso seja mais capaz de controlar a infecção.  Caso   o imunizado adoeça, espera-se a esta seja de forma branda ou até que não ocorra manifestação clínica. Diante da frequente gravidade associada aos pacientes leishmanióticos, a vacina é uma ferramenta útil e eficaz contra a doença, com dados que demonstram 71,4% de eficácia.

Contudo, a decisão de vacinar depende da presença da doença no município e por vezes do hábito do animal. Um grupo formado por estudiosos no assunto, o leishvet, recomenda fortemente a vacina para animais que moram em área endêmica e são mais expostos ao flebotomínio por dormirem fora de casa ou em casinhas na área externa. Já os que moram em área endêmica, mas permanecem dentro de casa, a vacina é recomendada, mas de maneira opcional. Da mesma forma para aqueles que moram em região não endêmica, mas frequentam áreas de maior incidência regularmente, o repelente é fundamental e a vacina uma medida opcional.

Por fim, a ultima vacina e também considerada opcional é a vacina contra doenças do trato respiratório. O principal patógeno é a Bordetella bronchiseptica, este agente causa tosse severa e seca, que é agravada pela atividade ou excitação. O auge da tosse é acompanhado de vômito e esforço na tentativa de expelir pequena porção de muco da traquéia.Os sintomas mais severos são notados de 2-5 dias após a infecção, mas podem continuar por períodos mais extensos. O stress devido às más condições do ambiente, pode provocar recaída. Fatores ambientais tais como frio, disposição do canil e umidade são condições freqüentes, que aumentam a suscetibilidade à doença.

Por ser uma enfermidade associada à alta contagiosidade, a doença pode ser transmitida rapidamente aos cães suscetíveis e provocar tosse severa. Os critérios como lugares de estações do ano bem definida, com períodos frios e animais expostos a aglomerações com outro cães são geram recomendação à imunização.

Para o protocolo de proteção contra a famosa tosse dos canis existem duas vacinas, uma subcutânea que contém exclusivamente a  Bordetella bronchiseptica como antígeno a ser imunizado. Além desta, a vacina intranasal também induz resposta contra  este mesmo patégeno e também contra o Adenovírus Canino Tipo 2, e o vírus da Parainfluenza. Com a forma de aplicação intranasal, uma pequena porcentagem de animais poderá apresentar espirros, tosse ou corrimento nasal após a vacinação. Esses sinais são geralmente transitórios. Vale salientar que no caso da vacina subcutânea há a necessidade de um reforço na primovacinação, o que é diferente do protocolo com a forma intranasal, que somente uma dose é suficiente para uma resposta vacinal protetor.

Romeika Reis

Romeika Reis

Formada em Medicina veterinária pela UFERSA em 2001
Mestrado na UFRRJ em 2003
Professora de Dermatologia da pós Graduação da Equalis nos cursos de Dermatologia e Clínica Médica