Cães, Imunização

Coronavirose canina – O que precisamos saber?

DESENHO ESQUEMÁTICO DOS VÍRUS PERTENCENTES AO GÊNERO CORONAVIRUS.

Em tempos de pandemia causada por um coronavirus, é atual saber que estes são velhos conhecidos da Medicina veterinária, e existem diferentes espécies e subtipos de coronavirus. Semelhante ao que acontece com o ser humano, diferentes espécies de Coronavirus já foram responsáveis por outras epidemias, como exemplo nos humanos cita-se a Mers (Síndrome respiratória aguda do oriente médio) que ocorreu em 2012, iniciada no Oriente Médio e a primeira sars (síndrome respiratória aguda grave) que ocorreu em 2002, também iniciada na china.

Em geral os virus pertencentes a este gênero são envelopados, com envelope bilipídico. Esta é uma característica importante por gerar instabilidade aos virions, muitas vezes também os torna maiores. A presença do envelope também os torna suscetível a desinfetantes comuns, além dos saponáceos e do álcool, que destroem o envelope. Outro aspecto morfológico característico do gênero é a presença de espículas na sua superfície, formada por proteínas estruturais, que se projetam pra fora do envelope e os assemelha a uma coroa (imagem 1), e por isso a nomina deste gênero.

DESENHO ESQUEMÁTICO DOS VÍRUS PERTENCENTES AO GÊNERO CORONAVIRUS.

IMAGEM 1: DESENHO ESQUEMÁTICO DOS VÍRUS PERTENCENTES AO GÊNERO CORONAVIRUS.
FONTE: GREENE, G.E. INFECTIOUS DISEASES OF THE DOG AND CAT, ELSEVIER, 2012.


Em cães a doença infecciosa respiratória canina é descrita por qualquer infecção respiratória de curso agudo, contagioso, tipicamente envolvendo o trato respiratório superior. A etiologia é complexa e envolve diversos vírus e bactérias que agem sozinhos ou de forma sinérgica. Faz parte dessa composição de microrganismos o vírus da parainfluenza canino, o adenovirus e uma espécie de coronavirus respiratório, (o Coronavirus respiratório canino) além de bactéria como a bordetella Bronchseptica. Existem relatos de pesquisa desta cepa respiratória do coronavirus canino em canil com animais apresentando manifestações clínicas de doença infecciosa respiratória, em animais com sinais leves como tosse foi identificado esta espécie de coronavirus. Nas infecções naturais em cães, o vírus foi isolado mais frequentemente na cavidade nasal, linfonodo e traqueia, além de ser descoberto de forma menos frequente nos pulmões e linfonodos bronquiais. Há de se salientar que esta cepa viral em questão raramente foi citada como patogênica e que quando encontrada como causadora de doença respiratória infecciosa canina está associado a outros microrganismos, por ter baixo poder patogênico.

Diante do baixo risco associado a esse vírus, não existe vacina disponível para essa cepa viral.

Outro tipo de coronavirus que também foi descrito em cães é o coronavirus entérico canino. Este já é mais comumente associado a sintomas como diarreias leves e transitórias. Assim como o vírus respiratório canino, o entérico é comumente associado a outros microrganismos causadores de enterites virais, como o parvovirus.

Esse virus foi isolado em 1971, de fezes de cães militares que foram acometidos de uma enterite infecciosa. Desde então, vários surtos foram descritos de enterites contagiosa e o isolamento do coronavirus tem sido recorrente. Sabe-se que é um vírus de fácil disseminação, especialmente em canil, onde existe a maior prevalência do vírus e tem sido isolado em animais com ou sem enterite. Os filhotes que nasceram de cadelas não infectadas previamente são os mais suscetíveis. Após o primeiro contato com o virus, os sintomas podem aparecer em poucos dias, de 1 a 4 dias. Uma vez infectado o animal pode eliminar o vírus pelas fezes por longos períodos, semanas a meses, e ocorre principalmente pela via fecal, mesmo que o animal seja assintomático. A eliminação e possível transmissão para animais suscetíveis inicia-se comumente entre 03 e 14 dias após a infecção. A fonte primária de contaminação é o ambiente, e o caminho oro-fecal, através fezes de animais infectados e a ingestão oral por cães susceptíveis é a principal forma.

Por ser um virus com maior atratividade pelo tecido intestinal, as primeiras manifestações clínicas são perda de apetite, vômito e diarreia, tais alterações são justificadas pela morte de células do intestino e por consequência encurtamento das vilosidades intestinais e alteração na digestão de nutrientes importantes, em especial aos filhotes, como o leite. A mortalidade é baixa e as alterações mais graves estão associadas a co-infecção por outros vírus, como o da cinomose, o adenovirus tipo 1 e o parvovirus canino. Nos quadros de infecção apenas pelo coronavirus, quando os animais debelam a infecção e se recuperam tendem a não ter sequelas, com recuperação funcional e na morfologia das vilosidades intestinais.

Como a grande maioria dos vírus, mutações do coronavirus entérico também pode acontecer e em geral resulta em cepa mais virulenta. Na Itália foi relatado a ocorrência de infecção por coronavirus com comportamento pantrópico, mais agressivo, ocasionando doença multissistemica fatal, inclusive gastroenterite hemorrágica.

Para esta cepa do coronavirus entérico canino existe vacina que comumente é administrada no protocolo vacinal iniciada em animais jovens, entre 45 e 60 dias de idade. Para evitar o contágio, uma vez que com a idade a suscetibilidade dos animais diminui e que animais assintomáticos podem transmitir o vírus, recomenda-se isolar os mais jovens dos adultos até que todo esquema de imunização tenha sido feito. A imunização é considerada efetiva quando houver a presença de IgA na mucosa intestinal, para que possa combater os vírus comumente presente neste local. Este objetivo é alcançado pela elevação dos títulos de anticorpos séricos e por consequência migração das imunoglobulinas nas mucosas intestinais.

Romeika Reis

Romeika Reis

Formada em Medicina veterinária pela UFERSA em 2001
Mestrado na UFRRJ em 2003
Professora de Dermatologia da pós Graduação da Equalis nos cursos de Dermatologia e Clínica Médica