Cães, Gatos, Imunização

Aprenda a diferenciar as 3 principais fases da imunização

A imunização, por meio das vacinas, contra agentes virais e bacterianos, varia de acordo com o tempo de vida do animal. Isso acontece porque os anticorpos maternos podem interferir negativamente na resposta às vacinas empregadas em filhotes com menos de 16 semanas de idade. A partir de 16 semanas, cães e gatos são considerados em sua maioria “livres” dos anticorpos e seus efeitos.

O processo de imunização possui três fases bem definidas. O conhecimento destas é essencial para entender e identificar se o processo vacinal está se encaminhando da melhor forma possível.

Pontos-chave

A imunização ativa contra agentes virais e bacterianos possui 3 fases distintas: sensibilização (“prime”), imunização (“immunize”) e estimulação ou reforço (“boost”);

Na fase de estimulação ou reforço, observa-se resposta humoral anamnéstica, caracterizada por níveis altos de IgG alcançados em curto intervalo de tempo;

A observação de níveis elevados de IgM em um animal pode significar doença ativa ou vacinação, em particular a primovacinação;

Na ausência de anticorpos maternos (acima de 16 semanas de vida), 2 doses de uma vacina morta são requeridas para sensibilizar e imunizar, sendo que a primeira sensibiliza e a segunda efetivamente imuniza. A exceção é a vacina antirrábica;

Na presença de anticorpos maternos (acima de 16 semanas de vida), 1 dose de uma vacina viva atenuada é suficiente para sensibilizar e imunizar ao mesmo tempo;

Como muitos produtos biológicos possuem componentes vivos atenuados e mortos, a aplicação de 2 doses de vacina em um animal acima de 16 semanas de idade é a conduta mais comum; ressalte-se que as recomendações de bula dos produtos devem ser sempre seguidas.

Fase 1 – Sensibilização

A sensibilização corresponde ao primeiro contato do organismo com um agente bacteriano ou viral. Em termos de imunidade mediada por anticorpos sistêmicos (humoral), a diferenciação inicial dos linfócitos B ainda não estimulados pelo antígeno vacinal direciona-se para a produção de imunoglobulinas do tipo M (IgM). A IgM é a primeira classe de anticorpos produzida pelo organismo em uma resposta primária, tendo meia-vida curta e respondendo por um percentual pequeno do total de imunoglobulinas no plasma. Mesmo assim, ela desempenha um papel muito importante ao ativar de forma eficiente a via clássica do complemento.

Fase 2 – Imunização

Na fase de imunização, em que ocorre a segunda exposição ao mesmo antígeno, verifica-se um desvio ou alteração de classe na produção de anticorpos. Essa fase, considerada uma resposta secundária, caracteriza-se pela produção de imunoglobulinas do tipo G (IgG) ou, dependendo da situação, IgA e IgE. A IgG é o anticorpo predominante no plasma e também o de maior meia-vida. A IgG responde pelos fenômenos de opsonização e neutralização de antígenos, sendo também envolvida na citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos.

Fase 3 – Estimulação

Na fase de estimulação ou reforço (“boost”), as vacinas que desencadeiam imunidade humoral provocam uma resposta anamnéstica. Tal resposta é caracterizada pela produção muito rápida de um nível bastante elevado de anticorpos do tipo IgG, os quais possuem grande afinidade pelos seus antígenos.

Outro ponto relevante a ser mencionado é que a quantidade total de anticorpos produzidos (IgM+IgG) é maior na resposta secundária. Tais fatos possuem uma implicação clínica importante na interpretação de exames sorodiagnósticos para doenças infecciosas, em particular para animais vacinados. Por exemplo, a presença de níveis elevados de IgM em um animal pode significar doença ativa ou vacinação recente, em especial a primovacinação, em que se observa resposta primária (fase de sensibilização).

Fique de Olho

Níveis altos de IgG podem corresponder à exposição anterior a um antígeno (animal clinicamente recuperado), vacinação recente ou fase de recuperação de um processo infeccioso (convalescença). Com certeza, a realização de exames de sorodiagnóstico pareados, com acompanhamento minucioso do quadro clínico, é a melhor opção para contextualizar o significado dos testes.

Na ausência de anticorpos maternos (acima de 16 semanas de vida), 2 doses de uma vacina morta são necessárias para imunizar o animal, sendo que a primeira dose sensibilizará e a segunda efetivamente imunizará. A exceção clássica a essa regra é a vacinação contra a raiva, pois se sabe que uma única dose é suficiente para assegurar a proteção. No caso das vacinas vivas atenuadas, sem anticorpos maternos, em teoria apenas 1 dose é suficiente para sensibilizar e imunizar ao mesmo tempo.

Todavia, como muitos produtos biológicos contêm frações vivas atenuadas e mortas, a aplicação de 2 doses é a conduta mais comum, sendo que as recomendações dos fabricantes de vacina devem ser sempre seguidas.

No caso das vacinas da linha Vanguard®, os agentes vivos modificados são o parvovírus, o vírus da cinomose, o adenovírus canino tipo 2 (que protege contra hepatite infecciosa canina e adenovirose respiratória) e o parainfluenza vírus. As frações mortas são as bacterinas de Leptospira e o coronavírus entérico.

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Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.