Cães, Gatos, Imunização

A importância das reavaliações anuais de saúde

Homem segurando husky

As vacinações, reavaliações e revacinações anuais são uma excelente oportunidade para implementar outros cuidados ao paciente, que agreguem valor ao serviço prestado e principalmente, à saúde e bem-estar. Ao receber um paciente na clínica para vacinar, o tutor deve receber informações sobre controle de ecto e endoparasitas, orientação de alimentação e saúde oral e sugestão de procedimentos de controle populacional (orquiectomia e OSH). Mas há algo muito importante que deve ser incluso na rotina de cuidados básicos preventivos: exames hematológicos e bioquímicos.

O consentimento geral é de realizar testes hematológicos e bioquímicos apenas quando temos a suspeita clínica de que o animal está com alguma enfermidade. De fato, nesse momento é crucial performar esses exames dependendo dos sintomas observados, porém é de suma importância que saibamos o que é o “normal”. Você pode até pensar: para isso que temos os valores de referência já estabelecidos para cada analito, para cada tipo celular, para cada espécie. E sim, esses valores de referência nos auxiliam muito, mas não são verdades absolutas. Cada indivíduo é único, e essa conduta nos permite ampliar a visão de estado de saúde geral, além de permitir a detecção de doenças de forma mais precoce.

Por que uma reavaliação anual deve incluir testes diagnósticos para buscar por doenças?

Medicina de qualidade

Os guias de saúde preventivos recomendam testes diagnósticos anuais como parte de um plano individualizado baseado na avaliação do paciente.1

Lealdade do cliente

Testes de triagem adicionam valor às reavaliações e potencializam a lealdade de seus clientes.

Detecção precoce de doenças

Testes de triagem podem detectar doenças crônicas mais cedo e consequentemente permitir melhores resultados, especialmente em cães e gatos idosos.2

Receita adicional para a clínica

Testes feitos na clínica podem ser um caminho significativo de aumento de receita.3

Conhecimento dos valores basais

Estabelecendo os valores de base para cada exame, você terá um ponto de referência para melhorar o manejo clínico.

Os guias de saúde preventivos, como o da American Animal Hospital Association e da American Veterinary Medical Association (AAHA-AVMA)1, recomendam testes diagnósticos anuais como parte de um plano individualizado baseado na avaliação do paciente. A realização desses testes de triagem permite detectar doenças crônicas de forma precoce, possibilitando tratamentos mais efetivos, especialmente em cães e gatos idosos. 
Por exemplo, em um estudo4 conduzido na Bélgica e Holanda, foram avaliados 100 cães aparentemente saudáveis na concepção de seus tutores, com média de idade de 9,6 anos. Realizaram hemograma, bioquímica sérica e exames de urina (fita e razão proteína:creatinina urinária). O resultado abaixo nos mostra que, apesar do tutor ser imprescindível na observação de sinais, eles não são capazes de detectar mudanças iniciais sutis ou até mesmo as mais visíveis, como obesidade; em um dos animais avaliados, a ingestão de água diária passou de 50-60 ml/kg corporal/dia (valor médio normal) para 200 ml/kg corporal/dia, sem que houvesse a percepção do tutor.

Em um outro estudo5 conduzido na Austrália, foram realizados em cães e gatos sadios de meia-idade (cães de 5 a 8 anos e gatos de 6 a 9 anos) os perfis bioquímico e hematológico, urina tipo 1 e T4 total, quando estes foram às clínicas para procedimentos rotineiros. Dos 406 cães avaliados, 351 apresentaram alguma anormalidade, e 25 desses (6,9%) apresentaram doença significativa ou precisaram de acompanhamento adicional. Dos 130 gatos, 104 apresentaram alguma anormalidade, sendo 25 (19,2%) com doença significativa ou necessidade de acompanhamento posterior. Ou seja, esses testes realizados na rotina permitiram detecção precoce de doenças, o que melhora o prognóstico com o início do tratamento antecipado.

 

Qual a importância do estabelecimento de valores individuais para cada paciente?

Apesar de já estarem estabelecidos na literatura os valores de referência para cada espécie, é importante ter em mente que cada animal tem seu próprio “normal”, e a definição desses valores em períodos de higidez traz uma informação muito rica para avaliação quando esse paciente e seu tutor se apresentam na clínica com alguma queixa, e consequentemente, para a tomada de decisão do médico veterinário sobre tratamento.

O valor de creatinina atual estabelecido pela International Renal Interest Society (IRIS)6 para cães e gatos é de até 1,4 e até 1,6 mg/dL, respectivamente. Poderíamos inferir que um gato de 12 anos que chega à clínica para check-up anual e apresenta creatinina de 1,4 mg/dL está saudável e sem motivo para preocupações. Mas existem diferentes cenários a serem observados se tivermos valores de referência individuais para esse paciente estabelecidos em períodos de higidez:

No caso 1, de fato não podemos afirmar que o animal apresenta alguma anormalidade nos valores obtidos, visto que não há diferença significativa nos últimos 5 anos, ou seja, esse valor obtido provavelmente é o normal para esse paciente. Porém, ao observarmos os demais casos, vemos que no 2º há um aumento abrupto do ano anterior para o atual, e no 3º caso, um aumento gradativo ano a ano. Esses dois casos acendem uma “luz amarela” para o profissional, que deve procurar exames complementares e provavelmente iniciar uma terapia preventiva nesse animal, antes mesmo do aparecimento de sintomas. Uma conduta dessa só é permitida se tivermos base para comparação do mesmo paciente, ainda que todos os resultados estejam dentro dos valores de referência.

Quando avaliamos função hepática, devemos ter a mesma percepção; pela literatura7, o valor de referência para ALT (alanina aminotransferase) é de 10 a 118 UI/L. A conduta clínica deve ser estabelecida de acordo com o aumento dos valores quando comparados ao valor basal. Se o aumento é de até 2 vezes esse valor, o recomendado é reavaliar em até 6 semanas, podendo adicionar uma terapia conservadora com nutracêutico; se é um aumento de 2 até 5 vezes o valor basal, deve-se ampliar a avaliação hepática, e se for superior a 5 vezes, a avaliação mais ampla deve ser imediata. Porém, se não conhecermos o valor basal de um paciente, como podemos tomar decisão de conduta com um valor obtido, por exemplo, de 150 UI/L?

Por vezes temos receio de pedir exames aparentemente “sem motivo”, mas o tutor não enxerga bem assim... Em uma pesquisa conduzida8 em 2015 com clientes e veterinários, de 61 a 78% dos tutores aprovavam a realização de exames de triagem com o animal considerado saudável, ao passo que apenas 51% dos veterinários tinham essa percepção. Ainda, 27% dos veterinários consideravam ter os resultados em até 15 minutos importante, ao passo que de 49 a 70% dos tutores julgavam essa rapidez um diferencial.

 

Como podemos concluir, as avaliações durante as visitas para vacinação são uma conduta extremamente valiosa para o clínico e, principalmente, para o paciente. Existem muitas possibilidades de avaliação e procedimentos, ainda que o paciente apresente exame clínico e resultados hematológicos aparentemente normais e dentro dos valores de referência. Esses dados propiciam a instituição de protocolos preventivos ou ainda início de tratamentos mais precoces, melhorando qualidade e expectativa de vida do animal. Além disso, quando falamos do uso de analisadores dentro da clínica, falamos de mais agilidade na decisão terapêutica, sendo ainda uma nova fonte de receita para o negócio.

 

*Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.
Confira as referências bibliográficas abaixo
:

1. AAHA/AVMA Canine and Feline Preventive Healthcare Guidelines, 2018. Available on: https://www.aaha.org/globalassets/02-guidelines/preventive-healthcare/AAHA-Oncology-Guidelines-for-Dogs-and-Cats

2. Wendy S. Myers. Selling The Value Of Diagnostics, Veterinary Practice News, 2013. Available on https://www.veterinarypracticenews.com/selling-the-value-of-diagnostics/

3.Lou Anne Epperley. In-house Blood Work Can Be A Revenue Stream For Veterinary Practices, Veterinary Practice News, 2012. Available on: https://www.veterinarypracticenews.com/in-house-blood-work-can-be-a-revenue-stream-for-veterinary-practices/

4. Willems et al. Results of Screening of Apparently Healthy Senior and Geriatric Dogs, J Vet Intern Med 2017;31:81-92

5. Dell’Osa et al. Prevalence of clinicopathological changes in healthy middle-aged dogs and cats presenting to veterinary practices for routine procedures, Australian Veterinary Journal, 2016;94: 317-323.

6. International Renal Interest Society staging of CKD, 2017, disponível em http://www.iris-kidney.com/pdf/IRIS_2017_Staging_of_CKD_09May18.pdf

7. Lawrence, YA, Steiner JM. Laboratory evaluation of the liver. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 47:539-553, 2017.

A Survey Conducted with Pet Owners and Veterinarians Regarding the Value of Point of Care Blood Testing Commissioned by Abaxis Administered by Trone Brand Energy, Inc.,2015

Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.

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