Cães, Gatos

Entenda a importância do manejo sanitário no controle de doenças infecciosas em felinos

Abrigos ou criatórios de gatos estão cada vez mais frequentes nas grandes cidades. Porém, um pequeno número de gatos nestes locais são portadores de agentes infecciosos na forma latente ou de eliminação persistente. Pouca adesão à eutanásia (em alguns casos), nutrição deficiente e estresse facilitam a disseminação de agentes infecciosos e desenvolvimento de doença.

A escassa condição financeira destes locais predispõe à superpopulação, precariedade nas medidas de higiene, imunização deficiente ou ausente e a não testagem dos indivíduos para doenças infecciosas importantes. Os funcionários que trabalham nestes ambientes tendem a ser muito motivados com a causa, mas possuem deficiência no treinamento em medidas de higiene do local, seus impactos na propagação de infecções e no manejo de doentes. O profissional consultado para orientar o corpo técnico destes abrigos deve instituir um programa de manejo preventivo que incluirá aspectos relacionados a regulação das condições de habitação dos gatos, quarentena, medidas de higiene e nutrição, testagem para algumas doenças infecciosas, instituir um programa de imunização e castração, e medidas para redução do estresse.

Uma adequada disposição dos recintos do abrigo ou sua adaptação pode auxiliar no controle de doenças infecciosas. O ideal é que existam pelo menos quatro áreas distintas:

uma área de quarentena para novos integrantes;
uma segunda área de isolamento para gatos doentes ou potencialmente portadores de infecções;
uma terceira área para acomodar gatos saudáveis retrovírus negativos;
e, por último, uma área para acomodar gatas gestantes ou em lactação e suas ninhadas.



O procedimento de quarentena deve ser no mínimo de três semanas. Esta medida não se aplica apenas aos novos ingressantes de abrigos ou criatórios, mas às residências de proprietários com poucos gatos ou mesmo com um único gato no domicílio. Este período permite avaliar a possibilidade de incubação de infecções pelo parvovírus e calicivírus ou a reativação de infecções latentes pelo herpesvírus felino, como também o esquema vacinal destes novos ingressantes começa a se tornar efetivo. Na verdade, o período de quarentena deveria ser no mínimo de seis semanas, quando se leva em consideração a possibilidade de soroconversão para o Vírus da Imunodeficiência Felina (VIF) e de detecção de viremia pelo Vírus da Leucemia Felina (FeLV).

O procedimento adequado é retestar para retrovírus os gatos ao final da quarentena de seis semanas. Neste período, os anticorpos para o VIF e a antigenemia para o FeLV se tornam detectáveis. A RT-PCR para carga viral (RNA) do FeLV é altamente sensível e detecta a presença de material genético do vírus uma semana após a exposição. Gatos que manifestem qualquer sinal de doença infecciosa ou sejam virêmicos para o FeLV devem ser removidos para a área de isolamento. A área de isolamento deve ser separada das outras áreas do abrigo e, preferencialmente, deveria estar em construção diferente daquela que alberga as outras áreas.

A acomodação de gatos saudáveis retrovírus negativos deve ser em pequenos grupos e vacinados contra parvovírus, calicivírus, herpesvírus, FeLV e raiva. É desejável que a sala possua um anexo externo, mas as telas de proteção devem ser adequadas para evitar a interação dos gatos com outros animais. Os gatos devem ter áreas sombreadas e que os protejam da chuva e frio, com acesso a água fresca.

Em cada entrada dos diferentes recintos das áreas do abrigo ou criatório deve estar disponível um local para lavar as mãos, higienizar os calçados em pedilúvios e o uso de luvas. A cada entrada e saída dos recintos estes procedimentos de higiene devem ser adotados. As pessoas que trabalham no local devem usar uniformes ou roupas diferentes daquelas usadas quando chegaram da rua. Os materiais e equipamentos de limpeza, desinfecção e alimentação devem estar disponíveis em cada recinto e deixados exclusivamente nestes locais, sem permuta entre as áreas. Nas áreas de quarentena e isolamento estas medidas devem ser mais cuidadosas, realizadas na abordagem de cada gato individualmente e deve ser de acesso restrito.




A limpeza dos ambientes e materiais deve começar com o uso de detergente para remover matéria orgânica primeiro, antes da desinfecção. Os desinfetantes que inativam vírus não envelopados como o parvovírus e o calicivírus são aqueles com aldeídos, ácido peracético, monopersulfato ou hipoclorito. Os desinfetantes com amônia quaternária e álcool não inativam o parvovírus. É importante ressaltar que deve-se obedecer a correta diluição do produto e o tempo de contato para a adequada desinfecção.

Cada recinto que acomoda gatos deve ter bandejas sanitárias em quantidade suficiente. Pode-se utilizar a regra de uma bandeja para cada gato, mais uma adicional. Os bebedouros e comedouros devem estar o mais distante possível das bandejas sanitárias e também em quantidade suficiente. O abrigo ou criatório deve ter estratégias adequadas de enriquecimento ambiental como arranhadores, brinquedos, prateleiras, camas e locais que os gatos possam se esconder. Estas medidas reduzem o estresse do local, diminuindo o risco de alguns gatos desenvolverem PIF a partir de uma infecção por coronavírus e também desenvolver rinotraqueíte por reativação de infecção latente por herpesvírus.

O estresse é desencadeado por estímulos desagradáveis como ruídos, odores não familiares, temperaturas desconfortáveis, manuseio inapropriado dos gatos, pessoas, animais e ambientes desconhecidos. Pode-se utilizar o feromônio facial felino como medida auxiliar para o enriquecimento ambiental. O feromônio é um mensageiro químico que dispara uma reação social em membros da mesma espécie. Ele altera o estado emocional dos gatos via sistema límbico e hipotálamo em situações que geram estresse, evitando ou minimizando a ansiedade. O uso de gaiolas deve ser restrito a situações específicas com indicação médica, como aqueles gatos sob quarentena após cirurgia ou por motivo de doença e aqueles na área de isolamento. Em todos os locais do abrigo deve-se ter atenção para a temperatura permanecer entre 10º e 29ºC, com boa qualidade do ar e ventilação e prevenção de barulho.

A densidade populacional dos gatos em cada recinto deve ser mantida a mínima possível. A prevalência de doenças infecciosas aumenta com a superpopulação de gatos no abrigo, além de ser uma situação altamente estressante. Quando os grupos são formados ao longo do tempo, é importante atentar para a compatibilidade social entre os integrantes. Os filhotes devem ser mantidos na área de maternidade com suas mães, apenas. Em recintos com mais de 6 gatos, a infecção por coronavírus é praticamente sempre presente.

Cada gato saudável com seis semanas ou mais deve ser imunizado contra parvovírus, calicivírus e herpesvírus pelo uso de vacinas vivas atenuadas, pois induzem rápida imunidade. É necessário incluir no esquema de imunização vacinas contra o FeLV, ainda mais quando se considera a alta frequência da infecção entre os gatos no contexto nacional. Deve-se evitar as vacinas vivas atenuadas em gatos infectados com retrovírus ou com doenças crônicas, como também naqueles com gengivo-estomatite e infecção pelo calicivírus. Os reforços devem ser dados a cada três a quatro semanas, até 16 a 20 semanas de idade. Para os gatos com mais de 16 semanas, duas doses de vacinas serão suficientes. No contexto dos abrigos, criatórios ou propriedades com mais de três gatos, os reforços devem ser anuais. Gatos doentes e gestantes devem ser avaliados individualmente para a necessidade de imunização. As gestantes nunca devem receber vacinas vivas atenuadas contra o parvovírus.

A higiene é uma das medidas mais importantes na prevenção de doenças infecciosas. Medidas de higiene inadequadas e imunização deficiente podem favorecer surtos de doenças infecciosas como aquelas induzidas pelo calicivírus virulento. O calicivírus pode sobreviver por três dias nas teclas do telefone e por um a dois dias no mouse do computador. Parvovírus e oócitos de Cystoisospora podem sobreviver no ambiente por meses a anos. A transmissão indireta por pessoas ou fômites é de grande risco em ambientes com alta rotatividade de gatos. A desinfecção e descontaminação dos objetos do abrigo, como lavar e desinfetar as mãos deve sempre ser reforçada.

Doutor Marcelo Zanutto


Médico Veterinário pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo em 1995. Programa de Residência em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais junto ao Hospital Veterinário da FMVZ-USP. Mestre e Doutor em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP. 

Fez parte do Quadro Docente, no cargo de Professor Adjunto Doutor doDepartamento de Patalogia e Clínicas da Escola de Medicina Veterinária da UniversidadeFederal da Bahia de 2002 até 2006.

Faz parte do Quadro Docente, no cargo de Professor Associado Doutor do Departamentode Clínicas Veterinárias (DCV) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.

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