Gatos, Imunização

Ameaça clínica da Leucemia Viral Felina: melhor prevenir do que tratar.

O vírus da leucemia felina (FeLV) é um gama retrovírus com distribuição mundial e de particular relevância no contexto nacional. Este vírus possui alta patogenicidade ao gato e é responsável pela indução de tumores hemolinfáticos (linfoma e leucemia) à infecções secundárias e até supressão medular (anemia arregenerativa, leucopenia e trombocitopenia).

A prevalência ou frequência da infecção estudada no contexto brasileiro varia entre as regiões e cidades entre valores menores que 5%, até valores muito altos de 30 a 40%. Em muitos países desenvolvidos europeus e nos EUA, a frequência ou prevalência da infecção tem diminuído, mas não é o que se observa no Brasil.

Fatores de risco associados a FeLV: 1. Ser filhote ou ter até 5 anos; 2.Viver em grupos (abrigos ou criatórios); 3. Ter acesso à rua; 4. Ter contato com outros gatos que saem à rua;

Diante deste cenário nacional é muito importante o clínico reconhecer a variabilidade clínica que este vírus determina no gato, abordar as medidas para diminuir ou prevenir a transmissão e interpretar adequadamente os testes diagnósticos (sorológicos e moleculares) disponíveis.

Progressores e Regressores

Os gatos infectados por este retrovírus podem passar por um curto período assintomático. Uma pequena proporção de gatos consegue debelar a infecção na orofaringe e não se tornam virêmicos. Em geral, estes gatos são desafiados com uma carga viral infectante baixa e desenvolvem altos níveis de anticorpos neutralizantes. A infecção nestes gatos é denominada de abortiva. A grande maioria que chega sintomática são de gatos classificados como progressores, ou seja, pacientes em que o vírus infectou a medula óssea e está replicando neste tecido intensamente. Estes gatos são virêmicos com caráter persistente e transmitem a infecção a outros gatos. As afecções ou síndromes clínicas são classificados como tumores hemolinfáticos (gatos virêmicos possuem 62 vezes maior risco de desenvolver linfoma do que gatos não virêmicos), imunodeficiência e infecções secundárias, citopenias hematológicas, doenças imunomediadas (uveíte, glomerulonefrite, poliartrite) e outras síndromes (linfoadenomegalia generalizada, neuropatia, distúrbios reprodutivos). É comum nestes pacientes co-infecções com os agentes do Complexo Respiratório Felino, micoplasmose hemotrópica, PIF e VIF, ou desenvolver gengivo-estomatite.

Gatos classificados como regressores, isto é, gatos que sofreram viremia transitória e no momento do diagnóstico não são mais virêmicos, mas com amplificação de material genético específico pela PCR para o pró-vírus, podem também chegar doentes ao atendimento. As doenças relacionadas nestes gatos regressores ao FeLV são aquelas desencadeadas pela integração do pró-vírus no genoma felino como o linfoma, as leucemias e as citopenias hematológicas, representada mais frequentemente por anemia arregenerativa.

Gatos regressores que são imunodeprimidos ou tenham seus níveis de anticorpos neutralizantes diminuídos podem se tornar virêmicos, ou seja, podem se tornar progressores. Estes gatos se beneficiam da imunização contra leucemia, o que reforça a importância da disseminação dos testes sorológicos e moleculares para a checagem e estadiamento da infecção nos gatos, principalmente naqueles em alto risco (gatos com acesso à rua, de abrigos ou de propriedades com muitos animais).

Sobre a transmissão

A transmissão do FeLV entre os gatos é muito fácil, a carga viral infectante costuma ser alta na saliva. O vírus também é eliminado nas fezes e urina. Assim, gatos que se higienizam mutuamente, brigam por mordedura, compartilham comedouro, bebedouro e bandeja sanitária, possuem alta chance de infecção quando em contato com gatos virêmicos.

A transmissão vertical da infecção pode ocorrer culminando com o aborto ou o nascimento de filhotes com infecção progressiva (viremia persistente). O colostro e leite materno também se constituem em fonte de infecção aos filhotes, além dos cuidados higiênicos preconizados pela mãe. Importante ressaltar que doadores felinos de sangue devem ser não virêmicos como também negativos a PCR para o pró-vírus. Demonstrou-se que o sangue do doador regressor pode desencadear infecção progressiva no receptor.

O melhor tratamento

Os proprietários devem ser aconselhados que o tratamento adequado das condições que o vírus induz ou predispõe pode ter influência positiva sobre a qualidade e expectativa de vida dos animais. Muitas das complicações desencadeadas por esta retrovirose são tratáveis. Se o gato infectado for mantido sem acesso à rua, consequentemente diminuindo a possibilidade de co-infecções, a expectativa de vida destes pacientes aumenta.

Importante frisar que a vacinação contra a leucemia viral é procedimento fundamental no auxílio ao controle da disseminação da infecção. Todos os filhotes, independente ao risco de infecção, devem ser imunizados com reforço aos 6 meses ou um ano de idade. Gatos adultos devem ter o risco de infecção avaliado para determinar se os reforços vacinais serão a cada ano, dois anos ou três anos.

Doutor Marcelo Zanutto


Médico Veterinário pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo em 1995. Programa de Residência em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais junto ao Hospital Veterinário da FMVZ-USP. Mestre e Doutor em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP. 

Fez parte do Quadro Docente, no cargo de Professor Adjunto Doutor doDepartamento de Patalogia e Clínicas da Escola de Medicina Veterinária da UniversidadeFederal da Bahia de 2002 até 2006.

Faz parte do Quadro Docente, no cargo de Professor Associado Doutor do Departamentode Clínicas Veterinárias (DCV) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.

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