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BURNOUT E A SÍNDROME DA COMPAIXÃO NA MEDICINA VETERINÁRIA

Burnout e síndrome da compaixão são condições comuns que afetam profissionais da área da saúde. As situações vividas de forma única na medicina veterinária fazem com que veterinários sejam especialmente suscetíveis a esse processo.

A síndrome da compaixão pode ser definida como a exaustão gerada pela necessidade de ser empático e útil com aqueles que estão sofrendo. Geralmente é o resultado de estar envolvido na experiência de dor de outra pessoa, ou de testemunhar traumas, e pode levar ao burnout – uma síndrome psicológica que abrange exaustão emocional, perda de personalidade e um senso de perda de realização pessoal. A exaustão emocional está relacionada ao esgotamento de recursos emocionais; já a perda de personalidade se refere ao ceticismo, a atitudes insensíveis e imparciais com relação ao trabalho, clientes ou pacientes; e a perda de realização pessoal pode ser definida como uma autoavaliação negativa de incompetência e ineficácia. Burnout é tipicamente o resultado de estressores tanto externos, quanto internos e, geralmente, é medido em 3 dimensões: exaustão, ceticismo e sensação de ineficácia.1

Fatores relacionados ao trabalho que contribuem para burnout na medicina veterinária incluem trabalho excessivo, por várias horas, porém com tempo insuficiente para cada paciente, plantões, recursos e equipe limitados, conflitos no local de trabalho, descrições de trabalho incertas, diferença entre os valores e a filosofia da clínica, inadimplência, pressão financeira, preocupação com a carreira e um desafio único, a eutanásia. Além disso, expectativas irreais de tutores, situações nas quais os médicos-veterinários precisam equilibrar a acessibilidade ao tratamento com a provisão de cuidado de qualidade e baixa remuneração. Além dos fatores no local de trabalho, aspectos pessoais, como personalidade e enfrentamento também podem contribuir para o risco de burnout. Aqueles com tendências perfeccionistas, com padrões e expectativas irreais de si mesmos, seu trabalho e outros, e/ou se sentem excessivamente responsáveis pelo bem-estar de outros, podem estar sob maior risco. Da mesma forma, o risco pode ser maior para aqueles que não tem as habilidades necessárias para realizar suas responsabilidades de trabalho, junto com insegurança, incapacidade de relaxar e competitividade. Há a sugestão de que mulheres mais jovens têm um risco superior de estresse psicológico e que características de personalidade podem ter um papel mais significativo do que fatores ocupacionais em prever estresse de trabalho.1

Infelizmente, nessas situações alarmantes na medicina veterinária, as estatísticas são muito tristes. Uma das consequências é o aumento considerável nas taxas de suicídios, mais altas que a população americana em geral e que outros profissionais da saúde. Um outro ponto a ser combatido é o alto índice de ideação suicida na classe. Esse pode ser um dos maiores desafios da profissão, e para lidar com esse problema deve-se atuar em várias frentes.1

O burnout surge aos poucos, o que torna difícil perceber os sinais. Como um processo, é descrito como um conjunto de estágios que se misturam e, raramente, percebe-se o que está acontecendo. No início, o sentimento pelo trabalho realizado muda e perde-se o entusiasmo e a energia. O que antes representava uma sensação de plenitude, parece ser errado e vazio, levando à exaustão física, mental e emocional. A pessoa pode se esforçar cada vez mais, aumentando a carga horária, porém também agrava a exaustão e a frustração. A confiança, o conceito que a pessoa tem de si mesma e de suas realizações tendem a diminuir, em um processo de vergonha e dúvida.2

Com a sensação de insegurança e inadequação, pode-se começar a culpar as pessoas ao redor pelas próprias dificuldades, levando ao afastamento e a uma atitude de superioridade. À medida que a negatividade aumenta, a crítica se volta para o local de trabalho, a administração ou para os colegas. Como uma fuga para lidar com a preocupação, impotência e desilusão, inicia-se um processo de escapismo (alto consumo de bebida, comida, compras desnecessárias). É o ponto de ceticismo e insensibilidade.2

Ao atingir o ponto de crise, há uma sensação de sobrecarga, de falha total e incapacidade de lidar com as situações. Às vezes, a resposta a esse ponto é de adotar uma atitude de não se importar com mais nada, com um sentimento de desamparo e desespero.2

Se após ler a descrição acima, você sentiu que pode estar se esgotando (“burning out”), saiba que dificilmente está sozinho. Um estudo conduzido pela Canadian Veterinary Medicine Association (CVMA), com foco específico em burnout, concluiu que 51% dos veterinários acreditavam haver sofrido de burnout, e desses, 68% sentiram que estavam sob risco de recidiva. Daqueles que achavam nunca haver passado por burnout, 75% acreditavam que poderiam estar sob risco.2

Agora que já conhecemos um pouco mais sobre burnout e síndrome da compaixão, veremos na próxima semana como identificá-los e como desenvolver soluções para encontrar uma vida plena pessoal e profissionalmente!

Fontes:

  1. Kogan LR, Wallace JE, Schoenfeld-Tacher R, Hellyer PW, Ricards M. Veterinary technicians and occupational burnout. Frontiers in Veterinary Science | www.frontiersin.org 1 June 2020 | Volume 7 | Article 328. doi: 10.3389/fvets.2020.00328
  2. Stoewen DL. Burnout: Prescription for a happier healthier you. CVJ / VOL 59 / MAY 2018; 537-540.

Autora: Isabela Ribeiro Pesconi Marcondes