Cães, Gatos

Vacinas essenciais e não essenciais – o que embasa esses conceitos?

Desde a publicação dos primeiros guias de vacinação internacionais, observa-se a classificação das vacinas em cães e gatos em essenciais, não essenciais e não recomendadas (Quadro 1). É inegável a enorme relevância de tais documentos, pois são escritos por pesquisadores renomados em imunologia/infectologia, os quais procuram justificar suas recomendações com base em estudos científicos publicados ou, quando estes não estão disponíveis, na experiência clínica e de pesquisa acumulada por esses profissionais ao longo de anos de trabalho.

Classificação das vacinas em cães e gatos

Categoria
Definição
Essencial ("core")
Vacinas efricazes e seguras que devem ser aplicadas de forma regular em todos os indivíduos de uma população.
Não essencial ("non-core")
Vacinas efricazes e seguras que devem ser aplicadas de forma regular em apenas alguns indivíduos de uma população.
Não recomendadas
Vacinas consideradas não eficazes e/ou não seguras para a espécie-alvo, ou que previnem doenças sem importância clínica e/ou epidemiológica.

No entanto, as razões pelas quais uma vacina é classificada frequentemente são desconhecidas do grande público. Além disso, todos os guias ressaltam que a adoção de um ou outro protocolo vacinal depende da avaliação do paciente pelo médico veterinário, bem como as características epidemiológicas das doenças em cada região. Ou seja, o simples seguimento de uma recomendação estabelecida tendo como referência condições de um país ou continente (como Estados Unidos ou Europa, que norteiam as conclusões da maioria dos guias), pode não ser adequado para todos os países.

Listamos a seguir os principais critérios empregados na análise de uma vacina, de modo a incluí-la em uma das categorias possíveis:

1) Relevância da doença para a espécie alvo

Doenças com alta mortalidade são inequivocamente importantes de prevenir do ponto de vista individual. Por outro lado, doenças com alta morbidade, ainda que com baixa mortalidade, podem ter relevância quando se considera a saúde de um grupo de animais. Assim, em teoria, vacinas que protegem contra doenças com alta mortalidade ou elevada morbidade poderiam ser consideradas essenciais.

2) Prevalência da doença na população alvo

A prevenção de forma massiva para doenças com prevalência reconhecidamente baixa pode não se justificar e fica a critério do médico-veterinário.

3) Eficácia vacinal

As vacinas desencadeiam imunização passiva por meio de estimulação de mecanismos humorais (produção de anticorpos), celulares (efeito de células específicas do sistema imune) ou ambos. Cada vacina pode ser capaz de elicitar a modalidade de resposta imune requerida para os diferentes graus de proteção, indo desde prevenção da infecção por um patógeno até a redução da excreção de um patógeno após um desafio. Se uma vacina é comprovadamente eficaz para o objetivo a que se propõe, e esse objetivo é relevante do ponto de vista individual ou do grupo de animais, ela pode ser considerada candidata a essencial. Vale ressaltar que muitas vacinas, apesar de semelhantes em sua essência, podem variar quanto à eficácia. Por exemplo, nem todas as vacinas contra parvovirose, apesar de vivas modificadas, possuem a mesma eficácia.

4) Potencial zoonótico

Vacinas que protegem contra zoonoses, minimizando o risco de transmissão dos animais a seres humanos, podem ser cogitadas como essenciais.

5) Segurança da vacina

Consideram-se ideais as vacinas que tenham adequadas potência, pureza, eficácia e segurança. Se uma vacina é extremamente eficaz, mas provoca uma frequência de efeitos adversos (locais ou sistêmicos) acima do considerado razoável, ou efeitos graves o suficiente para limitar o seu uso, significa que aprimoramentos no processo produtivo precisam ser implementados de modo a torná-la mais segura.

6) Imunidade de grupo ou “de rebanho”

Deve-se ter em mente que as vacinações são primariamente instrumentos de proteção populacional. Ou seja, garantir a proteção da população é mais importante que a proteção de um indivíduo em específico. Neste contexto, a aplicação de certas vacinas e, em especial, a sua frequência de aplicação, são determinantes para atingir, na população, certo porcentual de animais imunizados, de modo que eventuais surtos sejam evitados diante da entrada de um patógeno novo.

Cabe enfatizar que a vacinação é um procedimento médico, em que veterinário desempenha um papel-chave, pois ele é o profissional capaz de analisar em conjunto a parte clínica (quadro sintomático do animal, a epidemiologia das doenças em sua região e experiência pessoal), as informações fornecidas pela indústria sobre os produtos veterinários e a literatura médica existente sobre vacinações e imunização. Com base nisso, é possível conduzir a conversa com os tutores e tomar uma decisão conjunta sobre o melhor protocolo vacinal a seguir.

A adoção de protocolos de vacinação recomendados em outros países (tipo de vacina e frequência de aplicação) sem uma abordagem crítica à luz das condições de cada região pode resultar em falhas de imunização, com consequências sérias tanto para os indivíduos quanto para a população em que eles se inserem.

Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.