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Atualizações Clínicas sobre os Sarcomas do Ponto de Aplicação em Felinos

Quando falamos sobre vacinação em felinos, a preocupação com os sarcomas do ponto de aplicação sempre vem à mente de médicos veterinários e os tutores dos gatos. Porém, a grande variedade de artigos científicos publicados sobre o tema pode levar a confusão sobre o real impacto e risco dos sarcomas nos dias de hoje. Além disso, a disponibilidade de materiais na Internet, de consulta livre pelos tutores dos gatos, é frequentemente fonte de questionamentos no consultório veterinário. Sendo assim, o objetivo deste material é proporcionar uma revisão objetiva sobre o assunto, de modo a facilitar a tomada de decisão no momento de vacinar um felino.

O que são?

Os sarcomas do ponto de aplicação, apesar de raros, constituem motivo de preocupação aos tutores dos gatos e médicos veterinários. Os primeiros sarcomas supostamente causados pela aplicação de vacinas foram descritos nos Estados Unidos no final da década de 1980, ao mesmo tempo em que algumas modificações na imunização de felinos ocorreram: o surgimento das vacinas antirrábicas inativadas, a maior utilização de vacinas contra raiva nos gatos e a introdução da vacina contra a leucemia felina. Essa coincidência levou à denominação inicial dos neoplasmas como “sarcomas pós-vacinação”. Contudo, com o passar do tempo, descobriu-se que os sarcomas poderiam ocorrer com medicações injetáveis de modo geral, levando à modificação do nome para “sarcomas do ponto de aplicação” ou “sarcomas causados por injeção” (Figura 1 e 2).

Figura 1 e 2 – Sarcomas do ponto de aplicação na face lateral do abdômen de dois felinos (Fotos gentilmente cedidas pelo Dr. Carlos Alberto Geraldo Jr.)

Identificando um sarcoma

O processo inflamatório representa o evento inicial no desenvolvimento dos fibrossarcomas e outras formas de sarcomas no ponto de aplicação. Após a vacinação, aumentos de volume locais são esperados como resposta à inoculação de um material estranho no tecido subcutâneo. Na maioria dos animais, esses aumentos de volume são transitórios e regridem sem a necessidade de tratamento específico. Em certos indivíduos, o processo inflamatório exacerbado ou contínuo pode favorecer a mutagênese e o início da proliferação celular anormal.

Nos sarcomas do ponto de aplicação, frequentemente observa-se a alteração das proteínas codificadas pelo gene p53 ou a expressão das proteínas derivadas do oncogene sis. As proteínas codificadas pelo gene p53 impedem que uma célula mutada prossiga no ciclo celular; portanto, mutações nesse gene podem permitir o início de um neoplasma. O gene sis codifica o fator de crescimento derivado de plaquetas que é produzido no local de injúria tecidual por linfócitos e macrófagos durante a resposta normal de cicatrização

Penicilinas de longa duração, parasiticidas (lufenuron), glicocorticoides de depósito, cisplatina, meloxicam e fios de sutura não absorvíveis já foram incriminados como causadores de sarcomas cutâneos. Há até mesmo descrições de gatos que desenvolveram sarcomas após a implantação de microchips. (Tabela 1). Apesar das especulações de que os adjuvantes seriam os principais responsáveis pelo aparecimento dessa neoplasia, vários estudos falharam em apontar maior frequência de sarcomas com a utilização de determinado tipo ou marca de vacina. Em outras palavras, nenhuma vacina pode ser considerada livre de risco, incluindo-se as recombinantes.

Agentes incriminados no desenvolvimento de sarcomas em gatos
Penicilinas de longa duração
Meloxicam
Lufenuron
Fios de sutura
Corticosteroides de depósito
Microchips
Cisplatina
Vacinas

Neste contexto, a decisão principal envolve muito mais a necessidade de vacinar que o tipo de vacina a ser escolhida. Para tanto, é preciso avaliar o risco de adquirir as doenças contra as quais as vacinas protegem e a probabilidade de sarcoma do ponto de aplicação. De acordo com dados mais recentes disponíveis, o risco de sarcoma pós-aplicação é extremamente baixo: 0,63 sarcomas/1.000 gatos ou 0,32 sarcomas/10.000 doses de todas as vacinas (EUA e Canadá) e 1/10.000-20.000 gatos consultados ou 1/5.000-12.500 consultas de vacinação (Reino Unido). Infelizmente, no Brasil não há dados disponíveis sobre a frequência de sarcomas em gatos. Da mesma forma, a prevalência real das doenças infecciosas é pouco conhecida.

Contudo, com base nas observações de atendimento relatadas por médicos veterinários em todo o país, fica muito óbvio que o risco de doenças infecciosas (como panleucopenia, herpesvirose, calicivirose, clamidiose e leucemia viral) é infinitamente superior ao risco de neoplasias. Os sarcomas do ponto de aplicação em felinos podem ocorrer meses a anos após a injeção de um medicamento. Além disso, o efeito de muitas medicações aplicadas no mesmo local pode se somar de forma a favorecer o desenvolvimento tumoral. Sendo assim, na prática, torna-se difícil atribuir a formação de um determinado neoplasma a uma medicação em específico, a menos que haja um registro confiável do local de aplicação de todas as medicações ao longo da vida do animal. Tendo em vista que nódulos inflamatórios no ponto de aplicação são comuns e não necessariamente indicam processo neoplásico, uma dúvida comum é entender quais são os critérios para se suspeitar de neoplasia ao diagnóstico de um aumento de volume.

O diagnóstico dos sarcomas do ponto de aplicação baseia-se no quadro clínico (local de ocorrência e histórico de aplicações) e confirmação de alterações cito ou histopatológicas compatíveis com neoplasia. O exame citológico pode ser inconclusivo e é contraindicado por alguns oncologistas. O exame histopatológico de biopsias incisionais ou excisionais, apesar de mais invasivo, permite o diagnóstico com base em colorações teciduais tradicionais ou técnicas de imuno-histoquímica.

Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.

Confira o estudo completo e as referências bibliográficas no link clique aqui

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