Cães

Hepatite infecciosa canina – será que nunca vi um caso mesmo?

A hepatite infecciosa canina é causada pelo adenovírus canino tipo 1 (CAV-1). Os adenovírus caracterizam-se por serem vírus de DNA não envelopados, o que os tornam muito resistentes à desinfecção ambiental.

O adenovírus canino tipo 2 (CAV-2) causa tipicamente quadro de infecção das vias aéreas superiores. A frequência da hepatite infecciosa canina caiu vertiginosamente após o advento das vacinas, que confere proteção eficaz (imunidade estéril) na grande maioria dos casos. Porém, pelo fato de a doença ser considerada rara, seus sintomas podem passar despercebidos em certas situações, razão pela qual vale a pena relembrar algumas características desta doença.

Sintomas e patologia

A hepatite infecciosa canina é uma doença observada com maior frequência em cães menores de 1 ano, embora animais adultos também possam ser acometidos. A forma hiperaguda da doença é caracterizada por colapso circulatório, coma e morte, que ocorrem em pouco tempo (entre 24 e 48 horas) após o início dos sintomas. Os tutores podem imaginar que seus cães foram envenenados diante deste quadro clínico.

Na forma aguda da doença, os sintomas podem ser: febre, linfadenomegalia cervical, inapetência, letargia, conjuntivite, vômito com ou sem sangue, diarreia, tosse, taquipneia e icterícia. Os sintomas neurológicos, como ataxia, convulsões, andar em círculos, cegueira, vocalização e “head pressing” quando o pet pressiona a cabeça contra a parede) podem ser observados a qualquer momento após a infecção.

As alterações neurológicas também podem causar encefalopatia hepática, trombose ou hemorragia no sistema nervoso central. Um marcante edema de córnea (olho azul ou “blue eye”) resulta da multiplicação viral nas células endoteliais da córnea, podendo haver uveíte anterior concomitante, com blefaroespasmo, fotofobia e secreção ocular serosa. Essas alterações oculares ocorrem quando os animais infectados começam a se recuperar e podem ser os únicos sintomas em animais com infecção branda. O quadro ocular pode ser mono ou bilateral e costuma afetar pelo menos 20% dos cães infectados pelo CAV-1.

Diagnóstico

O diagnóstico é baseado na história clínica e exames complementares. Um quadro clínico agudo caracterizado por febre, sintomas respiratórios e gastrointestinais, acompanhado ou não de lesões oculares, particularmente em animais com menos de 1 ano não vacinados ou durante o esquema de imunização inicial, deve levantar a suspeita de hepatite infecciosa canina. Acometimento de ninhadas com mortes súbitas consecutivas, em particular em canis, também. Alterações hematológicas e bioquímicas como leucopenia, linfopenia, trombocitopenia, indução marcante de enzimas hepáticas, hipoglicemia, hipoalbuminemia, hiperbilirrubinemia, proteinúria e prolongamento dos tempos de coagulação (tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada) podem ser observados. No entanto, o diagnóstico etiológico precisa requerer provas adicionais. A Tabela 1 resume as técnicas diagnósticas disponíveis:

Testes Diagnósticos disponíveis para a hepatite infecciosa canina*


Tipo de Amostra: Geralmente necropsia mas também biopsia hepática.

Objetivo da Detecção: Necrose hepática com inclusões intranucleares; antígeno do CAV-1 por imunoistoquímica.

Desempenho: Sensibilidade e especificidade da visualização de inclusões não conhecidas de fato. Biopsia hepática pode não ser viável em vista de coagulopatias.


Tipo de Amostra: Sangue;
Swabs retal, conjuntival e nasal;
Urina; tecidos colhidos à necropsia.

Objetivo da Detecção: DNA do CAV-1.

Desempenho Sensibilidade e especificidade podem variar dependendo do teste. Ensaios específicos para o CAV-1 não são amplamente oferecidos pelos laboratórios diagnósticos veterinários. Alguns testes diferenciam entre o adenovírus vacinal (CAV-2) e o vírus de campo (CAV-1). O significado e um teste positivo na urina é difícil de interpretar devido à excreção subclínica. Resultados falso-negativos podem ocorrer como consequência da inibição da PCR por componentes das fezes ou em cães com apresentações subagudas ou crônicas.


Tipo de Amostra: Todas as secreções e tecidos corporais.

Objetivo da Detecção: CAV-1.

Desempenho Sensível e específico, mas em geral disponível apenas como ferramenta de pesquisa.

* Fonte: Sykes, 2014.1

Tratamento e prevenção

O tratamento da hepatite infecciosa canina é estritamente sintomático, constituído de fluidoterapia para correção de desidratação e desequilíbrios hidroeletrolíticos, reposição de glicose, transfusão de sangue total ou plasma para e por fatores de coagulação, antimicrobianos e antieméticos. Animais infectados devem ser isolados, atentando-se para os cuidados de desinfecção ambiental e limpeza de utensílios. O CAV-1 sobrevive por dias em temperatura ambiente e fômites, sendo inativado por derivados de iodo, fenol e hidróxido de sódio; ele também é inativado a 50-60°C por 5 minutos, o que torna a desinfecção por vapor um método potencialmente eficaz.

O vírus é inativado (no ambiente) por derivados de iodo,
fenol e hidróxido de sódio

No entanto, a principal estratégia de prevenção é a vacinação. As primeiras vacinas disponíveis no mercado continham o CAV-1 atenuado que, apesar do elevado grau de proteção, causavam uma frequência indesejável de casos de edema de córnea (“blue eye”) e uveíte anterior. Tal fato motivou a substituição das vacinas contendo o CAV-1 pelas vacinas como CAV-2 atenuado, tendo em vista que se demonstrou imunidade cruzada entre o CAV-1 e o CAV-2. Assim, o mesmo CAV-2 contido nas vacinas atuais protege tanto contra a infecção pelo CAV-2 (respiratório) quanto contra a infecção pelo CAV-1. As vacinas contendo o CAV-2 são consideradas mais seguras que as contendo o CAV-1.


Vanguard® Plus e Vanguard® HTLP 5/CV-L contêm cepas atenuadas do CAV-2, as quais protegem de forma segura contra a hepatite infecciosa canina e a doença respiratória infecciosa canina causada pelo CAV-2.

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Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.