Cães, Gatos, Imunização

Reações adversas pós-vacinais: saiba como lidar com a insegurança do tutor

Quando informações com fundamento técnico-científico não estão disponíveis sobre a segurança de uma vacina, o proprietário do animal pode optar por não vacinar seu companheiro de estimação, com base em alegações infundadas que circulam na internet ou em conselhos que ele recebe de outras pessoas.

Tal como acontece com a prevenção de doença humana, quando muitos donos de animais não realizam a vacinação por conta de preocupações com a segurança, isto pode levar à perda da “imunidade do grupo de animais”, resultando em surtos de doenças, que, de outra forma, poderiam ocorrer com pouca frequência.

Vacinações são procedimentos bastante comuns e, portanto, não costumam causar problemas para cães e gatos. No entanto, existe sempre a possibilidade de reações alérgicas.

Reações alérgicas acontecem quase imediatamente

Os sintomas de alergia costumam ocorrer nas primeiras 24 horas, podendo ter início em segundos a minutos após a aplicação. Por isso é importante orientar que o tutor fique de olho no animal, especialmente no primeiro dia após a vacina.

Os sintomas são bastante claros

Um deles, o choque anafilático, é de ocorrência quase imediata após a aplicação e pode levar o animal ao óbito se for não tratado adequadamente. Podem também ocorrer sintomas mais brandos como angioedema, edema, prurido e pápulas, mais vistos nos cães, ou vômitos, diarreia, prurido e a tendência a se esconder, no caso dos gatos.

Fatores de risco predisponentes potenciais tipicamente incluem idade, peso, sexo e raça do animal de estimação, bem como o tipo e o número de vacinas aplicadas simultaneamente, e comorbidades. O conhecimento desses fatores de risco é importante para donos de animais e veterinários, ao decidirem se vão vacinar um animal de estimação e qual a vacina a ser utilizada.

Estudos sobre as possíveis reações adversas

Em 2005, Glickman et al., na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Purdue publicaram os resultados do maior estudo já realizado para determinar a incidência de eventos adversos associados à vacina em cães. Este foi logo seguido por um estudo similar em gatos.

No período de estudo de dois anos, um total de 3.439.576 doses de vacina foram aplicadas em cães, durante 1.226.159 visitas ao consultório. Isto representou uma média de 2,8 doses de vacina aplicadas por visita ao consultório (faixa de 1-6 doses). A taxa global de reações alérgicas em cães foi de 38,2 por 10.000 doses aplicadas (0,38%). Um claro padrão de eventos adversos surgiu. Taxas de reação foram maiores nos cães de raças menores; a probabilidade de uma reação alérgica aumentou de forma constante com a diminuição do peso e do número de doses de vacina aplicadas. Ela também foi maior nos cães de 1-2 anos de idade, que receberam doses de reforço.

Taxas de reações alérgicas não diferiram significativamente entre os diferentes tipos de vacinas, mas foram geralmente superiores para produtos inativos.

Componentes alérgenos

Estudos posteriores foram realizados por outros pesquisadores, para determinar quais componentes específicos de vacinas podem ser responsáveis por reações alérgicas pós-vacinais, incluindo adjuvantes, estabilizantes, conservantes, antibióticos, excipientes etc. Os resultados destes estudos sugerem que são proteínas estranhas de soro fetal bovino, caseína e gelatina que induzem reações de hipersensibilidade do tipo I, mediadas por IgE.

Pesquisas posteriores realizadas na Universidade Purdue descobriram que os cães que tiveram reações alérgicas após a vacinação tiveram títulos mais elevados de autoanticorpos IgE a estes contaminantes, bem como a certas proteínas do tecido hospedeiro como a tireoglobulina.

Em resumo, os veterinários devem compartilhar com donos de animais envolvidos os resultados destes e de outros estudos publicados sobre a segurança das vacinas e, juntos, desenvolver a estratégia de vacinação mais segura e eficaz para cada animal de estimação. Todas as decisões relativas à vacinação devem ser baseadas na melhor evidência científica disponível, acomodando as preferências e preocupações de proprietários de animais de estimação.

Confira o estudo completo e as referências bibliográficas, clique aqui

Atenção: O conteúdo deste site é destinado exclusivamente a médicos-veterinários, profissionais qualificados para avaliar e atestar a saúde de cães e gatos durante o processo de imunização. Se você não é um médico-veterinário, procure as informações com o profissional de sua confiança.