Cães, Gatos

INICIATIVAS EMPRESARIAIS PARA PREVENIR O BURNOUT

Nos textos anteriores conversamos um pouco sobre o que é o burnout e a síndrome de compaixão e como identificar esses processos. Mas e aqueles que não estão passando por isso, porém são donos de clínicas/hospitais, empregando assim colegas. Qual papel podem assumir ativamente para diminuir os riscos para seus colaboradores? Como empregadores existe a responsabilidade e o dever de cuidar da saúde e do bem-estar deles.

Um dos riscos associados à síndrome de burnout está relacionado ao local de trabalho, e é nele que a prevenção deveria começar. É fundamental pensar no indivíduo, bem como é essencial analisar as questões organizacionais desse ambiente de trabalho onde os veterinários passam grande parte do dia. Há pouco que um indivíduo pode alcançar em questões de bem-estar se ele estiver em um ambiente disfuncional ou sobrecarregado. Identificar e administrar potenciais estressores no local de trabalho são formas importantes de prevenção ao burnout. Podem ser consideradas algumas estratégias, como certificar-se que as tarefas, tecnologias e ambiente de trabalho sejam apropriados. Facilitar a execução das tarefas, estabelecendo prioridades, fluxo de trabalho, fornecer equipamentos adequados que fomentem a ergonomia e outras questões de segurança.¹

Atentar-se à carga e horas de trabalho, processos, agendamento, pessoal de apoio, intervalos, política de horas extras, plantões, férias, divisão de trabalho e apoio administrativo. Corroborar com o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, dar autonomia às pessoas, usando um estilo de administração participativo, provendo critério e poder de decisão de acordo com papéis e responsabilidades. Dar apoio e atenção e construir equipes unidas, direcionar práticas de comunicação para identificar áreas de estresse e mal-entendidos e fazer esforços conjuntos para diminuir a comunicação negativa. Relações positivas entre funcionários contribuem para colaboração e parceria nos processos, o que pode aliviar os efeitos da rotina, diminuindo a chance de burnout.¹

Desenvolver procedimentos para lidar com clientes difíceis, sendo esse um ponto importante a ser trabalhado, já que é o próprio veterinário responsável pelo animal quem orienta e discute com o tutor decisões não médicas, como valores de tratamento e avaliação de qualidade de vida.  Alguns hospitais e clínicas já dividem esse dever com outros profissionais, como administradores, assistentes sociais ou recepcionistas, o que pode diminuir o fardo emocional nessas questões. Padronizar atendimentos dentro dos locais de trabalho pode incluir a formação de comitês de ética e melhorar a ação em situações difíceis junto aos tutores, além de grupos de apoio e discussão e serviços de consulta ética, assim como existem nos hospitais humanos e outras instituições clínicas. Também nesse sentido, oferecer um número de contato do plantão, através do qual o tutor pode se informar sobre seu animal com o plantonista, evitando assim que o veterinário em folga seja o único contato.²

Trabalhar com níveis apropriados de desafio e se assegurar de conduzir avaliações de performance, sendo primordial não somente corrigir, mas também exaltar conquistas. Esclarecer expectativas de trabalho, desenvolver sistemas de remuneração justa e prover uma sensação de segurança, o que contribui para uma cultura de igualdade.

Promover o desenvolvimento profissional constante, especialmente em habilidades relacionadas ao trabalho onde a falta pode contribuir para o estresse.³ Vários autores sugerem a importância de inserir esses temas em seminários de educação continuada e no currículo da Medicina Veterinária, o que já inicia o preparo para situações inerentes à nossa prática desde a formação profissional, além de um maior conhecimento sobre sofrimento moral, conflito ético e autocuidado. Nos EUA, apenas 18 de 30 cursos de Medicina Veterinária promovem cursos dedicados à ética.²

Com relação ao desenvolvimento da carreira, é importante promover a educação continuada em diversas áreas, iniciando-se no ambiente das universidades e seguindo durante toda trajetória profissional.¹

É importante certificar-se que fontes de apoio confidencial estejam disponíveis para aqueles que passam por estresse. A educação de bem-estar psicológico pode ser dividida em três etapas: a primeira, incluindo programas para todos os veterinários, independente do status psicológico. Reuniões, convenções, educação continuada englobando também aprendizado sobre autoconhecimento e mindfulness; a segunda, programas específicos para grupos de alto risco, com orientações mais diretas; a terceira etapa, a mais delicada, é voltada para veterinários que não estão bem ou já têm necessidade de assistência individual de um profissional de saúde. Todas as etapas podem incluir um apoio anônimo, ou acesso a um grupo de médicos e conselheiros com experiência em profissionais da área da saúde. Um ambiente de trabalho que promova essas respostas positivas pode aumentar a resiliência e o bem-estar para aqueles que se encontram em situações de trabalho estressantes. Muitos dos estressores no local de trabalho estão sob nosso controle, por isso é de suma importância que cada um consiga identificar seus gatilhos para melhor lidar com eles. E por último, cada pessoa deve se perguntar: “como posso fazer desse local um ótimo lugar para trabalhar e um ambiente onde eu escolho estar?”.³

Autora: Isabela Ribeiro Pesconi Marcondes

Médica-veterinária formada na UFU (Universidade Federal de Uberlândia), consultora de demanda da Zoetis, esposa do Danilo e mãe do João Pedro S2.

Isabela Ribeiro Pesconi Marcondes

Fontes:

  1. Moir FM, Van den Brink ARK. Current insights in veterinarians’ psychological wellbeing. N Z Vet J. (2020) 68:3–12. doi: 10.1080/00480169.2019.1669504.
  2. Moses L, Malowney MJ, Boyd JW. Ethical conflict and moral distress in veterinary practice: a survey of North American veterinarians. J Vet Intern Med. 2018; 32:2115-2122. doi: 10.1111/jvim.15315.
  3. Stoewen DL. Burnout: Prescription for a happier healthier you. CVJ / VOL 59 / MAY 2018; 537-540.