Gatos, Imunização

Exames preventivos importantes em felinos

Exames preventivos importantes em felinos

As consultas de rotina e os cuidados preventivos são essenciais para individualizar o paciente, garantir uma melhor qualidade de vida e longevidade, bem como detectar precocemente doenças, diminuindo a necessidade de cuidados de urgência.

A falta de cuidados tem grande impacto sobre a qualidade de vida e longevidade dos gatos, sendo, também, um fator de influência sobre os casos de abandono. Estima-se que 33 a 36% dos gatos não passam por consultas de rotina anuais, sendo que os gatos adultos são os que mais sofrem a falta de cuidados preventivos, uma vez que estes possuem enfermidades de difícil identificação ou evolução insidiosa, como obesidade, doenças do trato urinário, doenças endócrinas, cardiopatias e problemas comportamentais.

Pensando especificamente nos gatos, a detecção e tratamento precoce de doenças é de particular importância por se tratar de uma espécie que esconde indícios de doença e não exibe sinais de enfermidade até fases tardias de vários processos mórbidos.

Os exames preventivos divergem nas diferentes fases da vida, uma vez que a incidência de muitas doenças aumenta com a idade.

Neonato a Júnior (até 2 anos de idade)

No período neonatal/pediátrico e júnior, é de fundamental importância a realização de sorologia e PCR para FIV/FeLV e exames coproparasitológicos.

O vírus da leucemia felina (FeLV) e o vírus da imunodeficiência felina (FIV) estão entre as doenças infeciosas mais comuns em gatos e a sorologia de todo paciente deve ser conhecida. O teste ELISA neste caso é o mais recomendado, contudo, convém confirmar os resultados positivos com testes de PCR.

O controle e a prevenção de parasitas nessa fase se faz necessário tanto para promover a saúde dos filhotes e dos gatos jovens, quanto para prevenir zoonoses. Em geral, infecções por protozoários e nematódeos (exceto ancilóstomos) são mais comuns em gatos jovens, acometendo principalmente gatos com acesso a rua, de vida livre ou que vivem em ambientes de superpopulação como gatis. A vermifugação deve ser iniciada no 15° dia de vida e seguir com doses mensais até completar 1 ano de idade.

Adicionalmente, pode-se complementar o painel de exames com a realização de hemograma completo, bioquímica sérica, eletrólitos e avaliação de pressão arterial sistêmica (PAS).

Importante ressaltar que, os parâmetros hematológicos devem ser avaliados de acordo com cada fase de vida dos felinos, pois sofrem alterações de acordo com a faixa etária. Particularmente nos felinos jovens (1 a 2 anos), por exemplo, o valor dos linfócitos é sempre próximo ao valor dos neutrófilos.

Adulto jovem (2 a 6 anos)

No estágio adulto jovem recomenda-se um acompanhamento anual e a realização de exames complementares abrangentes como hemograma completo, bioquímica, eletrólitos, exame de urina e PAS, visando reconhecer de forma precoce e tratar o quanto antes possíveis enfermidades insidiosas. Exames adicionais podem ser requisitados dependendo do estilo de vida do gato (indoor ou outdoor) e de eventuais alterações físicas e comportamentais.

Adulto a Geriatra (>7 anos)

Do estágio adulto ao  geriátrico, exames como bioquímica renal e hepática, glicemia, eletrólitos, PAS, T4 total, exame de urina, ultrassom abdominal e ecocardiograma assumem maior importância, já considerando doenças insidiosas comuns a animais mais velhos, como nefropatia crônica, diabetes mellitus, hipertireoidismo e cardiomiopatia hipertrófica.

O acompanhamento de bioquímica renal como creatinina e uréia, eletrólitos como fósforo, potássio e cálcio ionizável, assim como exame de urina e US abdominal possibilitam o diagnóstico precoce de doença renal crônica (DRC), que acomete cerca de 10% de toda população felina e cerca de 30% dos idosos acima de 10 anos. O diagnóstico precoce é essencial para retardar a evolução da doença renal. Vale ressaltar a importância do exame de urina para estabelecimento do diagnóstico da doença renal crônica, pois muitos gatos podem apresentar disfunção renal sem ainda ser detectado aumento da concentração sérica de creatinina. A mensuração da densidade urinária é importante para avaliação da função tubular e idealmente deve estar entre 1,035-1,045. Em gatos que apresentem desidratação e densidade urinária inferior a 1,035, o diagnóstico de disfunção tubular renal é extremamente sugestivo.

A IRIS (International Renal Interest Society), estabeleceu as diretrizes para o estadiamento da DRC e é de fundamental importância tanto para o estabelecimento do diagnóstico, quanto para instituição das medidas terapêuticas indicadas para cada estágio da doença. O estadiamento é baseado no valor plasmático ou sérico da creatinina e segue o seguinte esquema:

diretrizes para o estadiamento da DRC e é de fundamental importância tanto para o estabelecimento do diagnóstico

Além disso, deve ser realizado o subestadiamento da DRC pela avaliação da relação proteína:creatinina urinária sendo o animal não proteinúrico aquele que tem essa relação inferior a 0,2, proteinúrico limítrofe entre 0,2-0,4 e proteinúrico acima de 0,4. A pressão arterial é outro parâmetro utilizado para subestadiamento da doença renal e em gatos normais deve ser inferior ou igual a 140 mmHg.

O hipertireoidismo é a doença endócrina mais comum em gatos e o exame de T4 total associado ao TSH séricos devem ser realizados em todos os gatos adultos, idosos e geriátricos mesmo que aparentemente sadios, uma vez que se trata de uma doença progressiva e apresentação de sintomas pode ocorrer tardiamente, ou seja, muitos animais podem ser assintomáticos em fases iniciais.

Muitos gatos apresentam doença renal crônica e hipertireoidismo concomitante, e é comum que uma doença influencie nos resultados laboratoriais da outra. Normalmente, o hipertireoidismo leva a uma diminuição do valor de creatinina sérica em decorrência do aumento da taxa de filtração glomerular, o que pode acabar mascarando o diagnóstico da nefropatia. Em uma parcela dos casos, após o tratamento e correção do hipertireoidismo, ocorre aumento da concentração da creatinina, evidenciando o diagnóstico da DRC.

A hipertensão é um problema comum em gatos idosos, estando geralmente associada a diversas doenças sistêmicas como DRC, hipertireoidismo, hiperadrenocorticismo, diabetes mellitus, obesidade, entre outras. A pressão acima de 140x95 mmHg passa a se tornar perigosa, pois representa risco para órgãos alvo como olhos, rins, coração e cérebro. Deve-se realizar controle mais rigoroso em pacientes cardiopatas, endocrinopatas e nefropatas. Gatos com nefropatia crônica e hipertensos tendem a apresentar menor sobrevida caso a HAS não seja diagnosticada e controlada.

O ecocardiograma é um dos exames que deve ser incluído no check-up dos felinos, pois comumente evolui sem apresentação de sintomas. O diagnóstico precoce da doença cardíaca permite evitar a evolução do quadro e desenvolvimento das manifestações de insuficiência cardíaca congestiva, como efusão pleural, edema pulmonar agudo, bem como prevenir os eventos tromboembólicos.

A diabetes mellitus é outro problema que deve ser monitorado e investigado em gatos adultos e senis, pois muitos gatos desenvolvem hiperglicemia em patamares que não são suficientes para desenvolvimento das manifestações clínicas de poliúria, polidipsia e polifagia. Gatos possuem um maior limiar de reabsorção tubular de glicose e só passam a apresentar glicosúria a partir do momento que passam a ter glicemias superiores a 250 mg/dl, ou seja, hiperglicemias inferiores a 250 mg/dl não costumam causar diurese osmótica, tem menor risco de glicotoxicidade e de cetoacidose diabética. Portanto, a partir do momento que é detectado hiperglicemia em um felino (glicemia > 126 mg/dl) e descartado a possibilidade de hiperglicemia por estresse, deve-se considerar o diagnóstico de diabetes mellitus e iniciar terapia adequada (insulina, dieta adequada e correção do peso) a fim de se reduzir os danos metabólicos causados pela hiperglicemia e aumentar a chance de remissão diabética.


Carlos Alberto Geraldo

M.V. MSc. Carlos Alberto Geraldo Jr

Graduado em Medicina Veterinária pela UNIPINHAL em 2002.

 Mestre em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP em 2009, sob orientação do Prof° Dr° Archivaldo Reche Jr, com ênfase nas doenças infecciosas de felinos.

 Foi Médico Veterinário contratado do HOVET-UNIPINHAL 2003-2009 (Clínica Médica e Anestesia de pequenos animais).

 Professor de Terapêutica aplicada do curso de Medicina Veterinária da UNIPINHAL em 2009.

 Professor de Clínica Médica de Pequenos Animais do curso de Medicina Veterinária da FMU de 2010 a 2013.

 Coordenador da sala de Medicina felina do Congresso das Especialidades em 2013 e 2015 e do CAT CONGRESS em 2017, 2018 e 2019.

 Nos últimos 5 anos realizou mais de 100 palestras na área de medicina felina em diversas regiões do Brasil, incluindo cursos de pós-graduação, congressos regionais e nacionais, bem como participação em cursos internacionais e conferências on-line. 

 Há 11 anos atuando como Médico Veterinário da Clínica de Especialidades Vetmasters, com atendimento exclusivo a felinos. 

 Sócio proprietário da Clínica MasterCat em Jundiaí, realizando atendimento exclusivo a felinos desde 2018, sendo a única clínica especializada em gatos da região.

 Membro associado da American Association of Feline Practitioners