Cães, Gatos, Imunização

As vacinas e as doenças auto imune

As doenças auto imunes são aquelas que o organismo começa a desenvolver anticorpos contra estruturas denominadas próprias, ou seja, estruturas que fazem parte do organismo e que não deveriam ser combatidas pois são importantes para o equilíbrio e bem estar do corpo. Essas doenças podem ser primárias ou desencadeadas, como é o caso da anemia hemolítica que podem ser desencadeada por microrganismos, como Ehrlichia e Leishmania.

Neste contexto, existem várias doenças nos cães e gatos e não são raras no nosso cotidiano, o pênfigo foliáceo é a mais comum delas, afetam muitos animais? Não! 0,1% da população canina, parece bem pouco quando comparamos com a famosa dermatite atópica que chega a alcançar 15% dos animais. Porém, em um serviço especializado esse não é um quadro pouco frequente quando somado a tantos outros também desencadeados por auto anticorpos, como o Lupus (discorde e sistêmico), a dermatomiosite, a dermatopatia isquemica, a síndrome úvea dermatológica, as vasculite, todas consideradas doenças auto imunes e que quando somadas passam a fazer parte do cotidiano, especialmente quando se leva em consideração o serviço especializado, que recebe casos referenciados. Outro grupo de doenças auto imunes frequente é o originado nos elementos do sangue, como a trombocitopenia auto imune, as anemia hemolíticas que também são frequentes e comumente são graves, com o paciente em risco de morte.

Para controlar tais doenças se faz necessário o uso de imunomoduladores que regularmente no inicio dos quadros, até se obter o controle, são usados em doses elevadas ou até mesmo associados ( mais de uma droga). A essa fase, chama-se de indução da remissão e tem por objetivo gerar imunossupressão para se obter o controle do quadro e manter o paciente sem manifestação clínica. Uma vez que o animal está controlado, inicia-se a programação de diminuir a imunossupressão e por consequência minimizar os riscos decorrentes dela.

.Pensando em todos esses quadros, como ficam as vacinas destes animais? Devemos ou não imunizá-los? É importante ressaltar que é saudável, até para evitar outros transtornos como a ansiedade, que estes pacientes passeiem, que tenham uma rotina bem estabelecida. Assim, a imunização, vermifugação e preventivo de ectoparasita se fazem necessários para evitar outros problemas.

Uma estratégia usada é vacinar os pacientes especialmente na fase de manutenção, quando as manifestações clínicas estão controladas. Nesta fase espera-se redução de dose, frequência e até mesmo de associação de fármacos. Tal preocupação em relação a este grupo de doentes é fato porque muitos pacientes precisam manter uso dos imunossupressores, mesmo estando aparentemente saudáveis. Drogas como azatioprina, glicocorticoides, micofenolato, clorambucil, ciclosporina possuem o potencial de reduzir a resposta linfocitária e por isso reduzir a produção de anticorpos que são formados por células diferenciadas a partir deste tipo celular. Ainda assim, recomenda-se a adesão à protocolos vacinais em função do risco de adoecimento por agentes que circulam frequentemente na população.

É salutar que alguns pontos sejam levados em conta no momento decisório de vacinar, como o estilo de vida, o acesso à rua e o contato com outros animais. Estes fatores geram uma maior necessidade de regularização dos protocolos. Como parte do protocolo de monitoramento uma medida de segurança é a realização de exames de sangue prévio a vacinação, recomenda-se então a avaliação do hemograma com finalidade principal de avaliação do número de leucócitos, mais precisamente se há um quadro de linfopenia. Nesses casos, pode-se acompanhar o paciente com exames seriados para escolher o melhor momento de instituir o protocolo de imunização. Não existem números mínimos de linfócitos para se aderir ao protocolo (convencionado em literatura) porém, valores de neutrófilos segmentados menores que 2.500 células devem ser monitorados quanto ao risco de sepse.

Em pacientes tão desafiados, a precaução é a palavra de ordem, assim, para melhor monitoramento, uma estratégia recomendada é o uso primeiro das “vacinas obrigatórias”, como anti rabica e a vacina contra viroses, a exemplo da Vanguard plus, que devem ser as primeiras a serem ajustadas no protocolo. Não há contraindicação de serem administradas em um mesmo momento, mas como dito antes, a precaução deve nos acompanhar nestes casos clínicos, a realização de doses individualizadas e com intervalos mínimo de 15 dias é o mais aceito.

As outras vacinas como a de giardia, de gripe canina e contra a leishmaniose, também devem ser administradas, leva-se em consideração o desafio de cada indivíduo, a região em que mora e o risco de cada uma dessas doenças. Contudo, se a decisão for de adesão ao protocolo completo disponível, é válido o mesmo princípio das demais, fazer uma imunização a cada vez e com intervalo mínimo de 15 dias.

É difícil estabelecer um protocolo correto, a gravidade de cada doença, além da necessidade de manutenção de medicação e o potencial imunossupressor de cada droga deve ser levado em consideração. Avaliar a chance de interrupção da terapia também deve ser considerado na escolha do melhor momento para se instituir a imunização. A famosa frase: "não existe receita de bolo" se aplica bem a estes difíceis pacientes a avaliação individual ainda é o melhor caminho pra escolher o momento e que protocolo aderir para a imunização desses desafiadores pacientes. O importante é sempre que estiver ao alcance, dar-lhes a oportunidade de ter uma vida o mais próximo do “normal” o possível.



Romeika Reis

Romeika Reis

Formada em Medicina veterinária pela UFERSA em 2001

Mestrado na UFRRJ em 2003

Professora de Dermatologia da pós Graduação da Equalis nos cursos de Dermatologia e Clínica Médica