Em teoria, toda cadeia de produção avícola está exposta aos parasitos do gênero Eimeria, que podem causar coccidiose, uma doença com sérias consequências como perda de desempenho, enterite e morte. Além disso, a coccidiose serve como gatilho para enterite necrótica e disbiose, entre outras doenças.

Devido a coccidiose ser uma ameaça constante, a indústria farmacêutica desenvolveu um grande número de compostos anticoccidianos. Felizmente, essa variedade de moléculas permite a rotação entre programas, o que ajuda a prevenir o desenvolvimento de resistência. Com base na origem do composto e seu modo de ação contra as coccídeas, dividimos essas moléculas em duas classes: ionóforos e sintéticos.

Anticoccidianos ionóforos

São substâncias naturais secretadas por certos fungos (Streptomyces spp ou Actinomadura spp.).  Em uma dosagem específica, essas substâncias matam as coccídeas sem prejudicar o hospedeiro (aves). Além disso, elas têm algum grau de atividade antibacteriana e se encaixam na definição clássica de um antibiótico: “Uma substância formada por um microrganismo que tem efeito prejudicial em outro organismo”. Como não são usados na medicina humana, os ionóforos são classificados como não importantes do ponto de vista médico e se dividem em 3 categorias distintas:

1. Ionóforo monovalente: monensina, salinomicina e narasina
2. Ionóforo monovalente glicosídeo: maduramicina e semduramicina
3. Ionóforo divalente: lasalocida

Mesmo tendo origem em fungos diferentes, os ionóforos têm uma estrutura química semelhante (ver figura abaixo) e a propriedade de capturar eletrólitos (sais no sistema digestivo) e carregá-los para as coccídeas. Como os ionóforos são materiais de natureza gordurosa, conseguem penetrar facilmente nas paredes lipídicas das coccídeas com os eletrólitos. As coccídeas tentam expelir os eletrólitos que chegam para manter o equilíbrio osmótico, mas acabam ficando sem energia e morrem. Ionóforos monovalentes podem formar complexos lipídeo-solúveis com cátions sódio (Na⁺) e potássio (K⁺), enquanto ionóforos divalentes podem se ligar a cátions cálcio (Ca⁺²) e magnésio (Mg⁺²). Os ionóforos interrompem o desenvolvimento de esporozoítos, aumentando a concentração de íons Na + intracelulares. Além disso, eles aumentam a atividade da Na⁺/K⁺/ATPase e afetam os merozoítos, fazendo com que a membrana celular se rompa.

Geralmente ionóforos não são tóxicos para as aves quando usados nos níveis recomendados, pois são mal absorvidos pelo intestino desses animais. No entanto, existem exceções.

Figura: fórmula química dos ionóforos. Reparar a semelhança entre as moléculas da mesma categoria.

Anticoccidianos sintéticos

Ao contrário dos ionóforos, cada anticoccidiano sintético atua de maneira única contra a coccidiose. Geralmente, eles agem interferindo em um ou mais estágios do ciclo de vida do parasita. Também chamados de “químicos”, anticoccidianos sintéticos são produzidos por síntese química com modos de ação específicos:

1. Inibição da respiração mitocondrial do parasita: decoquinato, clopidol
2. Inibição da via do ácido fólico: sulfonamidas
3. Inibição competitiva da captação da tiamina: amprólio
4. Modo de ação desconhecido: diclazuril, halofuginona, nicarbazina, robenidina

Combinações

No mercado, é possível encontrar também combinações entre sintéticos e ionóforos (nicarbazina + narasina, nicarbazina + salinomicina) ou entre dois sintéticos (clopidol + metil-benzoquato).

Resumo

Não existem indicativos de que surgirão novos anticoccidianos em um futuro próximo. Logo, para realizar programas de rotação de maneira apropriada e racional, é importante conhecer as classes atualmente existentes e seus modos de ação.

Autor:

Antonio Kraieski – Médico-Veterinário | Msc. | Serviços técnicos – Aves

Antonio Kraieski

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