Cães, Gatos

RECONHECENDO E PREVENINDO O BURNOUT

Agora que já conhecemos um pouco a respeito de burnout e síndrome da compaixão, vamos entender como identificar os sinais e como desenvolver soluções para encontrar uma vida plena, tanto no aspecto pessoal quanto profissional.

Conheça algumas questões muito relevantes para autoavaliação, quando se começa a sentir efeitos negativos no trabalho:

  1. Pavor de ir ao trabalho;
  2. Sensação de se arrastar ao local de trabalho e de dificuldade em iniciar a rotina, uma vez que chegou;
  3. Enxergar o trabalho como uma ocupação;
  4. Sensação de constante sobrecarga;
  5. Ausência de diversão ou de risada no ambiente;
  6. Mudanças nas relações de trabalho;
  7. Inflexibilidade, sensação de não fazer parte do time;
  8. Ceticismo ou crítica quanto ao trabalho;
  9. Irritabilidade ou impaciência com colegas de trabalho ou clientes;
  10. Letargia e vazio no trabalho;
  11. Falta de energia, ecoando na produtividade de maneira expressiva;
  12. Falta de foco e de concentração no trabalho;
  13. Incapacidade em completar tarefas, seguir diretrizes e cumprir prazos;
  14. Ausência de preocupação sobre a qualidade do trabalho;
  15. Insatisfação com as conquistas;
  16. Desilusão com a função;
  17. Preocupação crônica com o trabalho;
  18. Abuso de comida, drogas ou álcool para se sentir melhor ou para simplesmente não sentir;
  19. Alteração nos hábitos de sono ou apetite;
  20. Queixas inexplicáveis, como dores de cabeça, de coluna ou outras.¹

Quanto maior o número de afirmações, maior a chance de que possa, de fato, estar se esgotando. Se esse for o caso, é aconselhável consultar um médico ou profissional de saúde mental, já que alguns desses sintomas podem também indicar certas condições de saúde, como hipotireoidismo e depressão clínica.¹

As consequências de ignorar ou não acompanhar esse processo podem ser pessoais, profissionais e organizacionais. No aspecto pessoal, burnout pode levar a muitas preocupações físicas e de saúde mental, incluindo doenças cardiovasculares, colesterol alto, diabetes tipo 2, AVC, obesidade, queda de imunidade, fadiga crônica, insônia, depressão, ansiedade, abuso de álcool ou substâncias ilícitas e ideação suicida. Essas preocupações não apenas afetam a vida pessoal, mas também interferem sobre a vida profissional.¹

Profissionalmente, a performance sofre e a carreira fica prejudicada. Há quedas na eficiência, produtividade e competência, características tão típicas do burnout, junto com o risco relativo de erros médicos, sérios impactos na direção e desenvolvimento da carreira. Burnout pode levar a licenças médicas, demissão e até mesmo perda da carreira. No nível organizacional, a doença contribui para aumentar o turnover de equipe, a ociosidade, produtividade e moral reduzidas, desrespeito, conflito, toxicidade, desagregação da equipe, insatisfação e infelicidade no local de trabalho. As consequências de burnout são extensas, incapacitando indivíduos nas organizações. Existe uma ampla variedade de estratégias para administrar o estresse relacionado ao trabalho entre veterinários. Essas técnicas podem auxiliar a controlar o esgotamento da prática veterinária que impacta na saúde, felicidade e performance – diminuindo o burnout e suas muitas consequências.1

E o processo de recuperação começa internamente. Desenvolver a resiliência, a antifragilidade, mantendo compromissos contínuos de autopreservação. Fazer da saúde uma prioridade, estabelecendo um programa de direcionamento pessoal. Alimentar-se corretamente, dormir o suficiente, exercitar-se, divertir-se e investir em atividades ao ar livre. Focar no lado espiritual, permitindo-se novas perspectivas e se colocar em momentos de contemplação e introspecção, identificando o que está aumentando os sentimentos de burnout para poder lidar com eles.²

Diminuir o tempo de mídias sociais, envolver-se em atividades que tragam relaxamento, e existem várias para diferentes públicos: yoga, artes marciais, pilates, artesanato, música, leituras, novos cursos. Empenhar-se em praticar autocompaixão, que é uma forma importante de autocuidado que transforma o amor próprio. Ter mais respeito e empatia por si mesmo.

Formar uma rede de apoio, conversar com colegas de trabalho, amigos e família, o que ajuda a lidar com o estresse e sentimentos de burnout.³ Tentar mudar os pensamentos para positivos, impedindo o pessimismo de direcioná-los. Perceber dentro de si os estressores e gatilhos que ativam as crises, pode ser necessário mudar a perspectiva que se tem desses gatilhos para saber direcioná-los melhor e diminuir o impacto que eles causam.

É importante ter controle de horário e buscar desenvolver-se, procurar oportunidades e ter respeito pelos colegas. O sentimento de desenvolvimento e crescimento profissional contribui para uma sensação de estar envolvido em um trabalho significativo.³ Uma avaliação honesta com relação à própria carreira deve ser considerada, uma vez que o equilíbrio se restabeleceu. E por último, mas não menos necessário: saber pedir ajuda, tanto pessoal, quanto profissional.¹,²

Uma parte importante do processo, em larga escala, é a inclusão do assunto como parte do currículo da Medicina Veterinária e de seminários de educação continuada. Algo tão inerente à carreira precisa ser direcionado desde seu início.⁴

Cada profissão tem sua carga de estresse, mas o fardo é considerável na veterinária. Burnout não tem que ser “o ponto final indesejado de uma profissão que começou com a mais nobre das intenções”. É um fenômeno difícil de acertar, mas com conhecimento e proatividade, pode-se mudar esse cenário.¹

Caso você não esteja passando por isso, mas tem uma clínica ou hospital, e colegas de trabalho, que tal entender um pouco mais sobre um local de trabalho ‘friendly’ e quais mudanças pode implementar para criar um ambiente assim? Aguardo você no próximo texto.

Fontes:

  1. Stoewen DL. Burnout: Prescription for a happier healthier you. CVJ / VOL 59 / MAY 2018; 537-540.
  2. Moir FM, Van den Brink ARK. Current insights in veterinarians’ psychological wellbeing. N Z Vet J. (2020) 68:3–12. doi: 10.1080/00480169.2019.1669504
  3. Kogan LR, Wallace JE, Schoenfeld-Tacher R, Hellyer PW, Ricards M. Veterinary technicians and occupational burnout. Frontiers in Veterinary Science | www.frontiersin.org 1 June 2020 | Volume 7 | Article 328. doi: 10.3389/fvets.2020.00328
  4. Moses L, Malowney MJ, Boyd JW. Ethical conflict and moral distress in veterinary practice: a survey of North American veterinarians. J Vet Intern Med. 2018; 32:2115-2122. doi: 10.1111/jvim.15315

Autora: Isabela Ribeiro Pesconi Marcondes