Gatos, Imunização

Novo Guideline de Doenças Retrovirais AAFP 2020 Parte 2 – diagnóstico, manejo e prevenção

Atualizações no protocolo dos exames de rotina

A sorologia por meio de ELISA como método único de diagnóstico pode ser suficiente em casos em que o resultado é consistente com a apresentação clínica do paciente. No entanto, diferentes gatos são testados em diferentes circunstâncias por diferentes motivos, de forma que a sorologia como método único de diagnóstico não é recomendado para todos os casos. A contraprova é indicada para esclarecer o estágio de infecção de alguns pacientes e confirmar o status de infecção da maioria dos gatos.

Gatos doadores de sangue devem ser testados para FIV e FeLV e devem ser negativos tanto em sorologia quanto em PCR.




A detecção de anticorpos para FIV no teste sorológico é geralmente indicação certa de infecção, exceto nos casos de imunidade passiva em filhotes. Testes negativos devem ser repetidos em no máximo 60 dias se houver manifestações clínicas compatíveis ou histórico de exposição recente, de forma a se aguardar eventual formação de anticorpos.

A sorologia para o vírus da FeLV verifica a presença de antígeno, ou seja, resultado positivo é confirmatório. A partir de um resultado positivo pode-se instaurar um tratamento ou seguir adiante com exames que possibilitam o estadiamento e prognóstico da doença, de forma que o tratamento será mais assertivo às necessidades do paciente.

O estagio abortivo da doença é aquele em que ocorre eliminação total do vírus e apresentará todos os resultados negativos. Esses gatos possuem o melhor prognóstico, tendo uma vida normal.

O estagio regressivo é aquele que não consegue eliminar o vírus completamente, de forma que os resultados nos testes sorológicos podem variar, apresentando-se por vezes negativos em todos os exames e por vezes positivo em um exame e negativo no outro. Esses gatos têm prognóstico melhor, podendo ter uma vida normal por muito tempo até progredirem, ou podem até vir a óbito por um motivo não relacionado à FeLV. Em casos de gatos regressivos onde o teste sorológico foi negativo, deve-se solicitar a PCR em tempo real para detecção de DNA proviral a fim de se confirmar essa infecção. Em caso de teste sorológico positivo e PCR negativo, têm-se um resultado discordante e deve-se considerar o gato como regressor e repetir os testes.

No estágio progressivo o sistema imunológico dos gatos não consegue controlar a infecção e o vírus é presente em altos níveis, positivando ambos os exames. Esses gatos possuem um prognóstico ruim com redução do tempo de vida.


Atualizações no manejo de gatos positivos

A segregação dos gatos FIV e FeLV positivos ainda permanece como a principal forma de controle da doença, no entanto avaliou-se que gatos portadores da FIV apresentam menor risco de transmissão para gatos negativos em ambientes controlados, com gatos castrados e sem fatores de estresse e brigas. Não havendo, nesses casos, a necessidade da segregação dos gatos FIV+ em casas multi-cat que cumpram tais requisitos.

Em ambientes multi-cat, todos os novos gatos devem ser testados para FIV/FeLV previamente a sua introdução, independente de sua origem.

Adicionalmente, estudos concluíram que gatos positivos tanto para FIV quanto para FeLV apresentam melhor prognóstico e maior longevidade quando são adotados e mantidos sob os cuidados adequados em comparação aos que vivem em colônias como gatis e ONGs.

O ideal continua sendo que gatis e ONGs testem todos os seus gatos previamente às adoções, no entanto esta não é a realidade financeira de muitos destes lugares. Nesses casos, as novas diretrizes recomendam que gatis e ONGs com limitada condição financeira deixem de realizar testes sorológicos para FIV e FeLV em massa, permanecendo como orientação a testagem somente dos gatos de alto risco (sintomáticos e com histórico de exposição), dos que dividem baia com outros gatos e daqueles que necessitam intervenção médica para alguma enfermidade. Dessa forma, os testes passam a ser realizados após a adoção mediante explicação da importância dos exames e acompanhamento médico aos novos tutores.

 

Atualizações na vacinação

A vacinação contra FeLV não confere imunidade de 100% contra a sua infecção, no entanto ela é de suma importância no controle da doença, diminuindo de forma expressiva o risco de transmissão, evitando que os gatos entrem em fase progressiva e reduzindo a gravidade de enfermidades decorrentes da FeLV.

Nas novas diretrizes, a recomendação é que se inicie um protocolo de vacinação contra a FeLV para TODOS os gatos filhotes e também em adultos não vacinados em ambientes de risco. Nesses casos, todos os gatos devem ser testados antes da vacinação. A primeira vacinação deve ocorrer aos 2 meses de idade, devendo ser realizadas duas aplicações com intervalo de 3 a 4 semanas entre elas.

O protocolo de revacinação para gatos a partir dos 2 anos de idade depende do estilo de vida. Não devem ser revacinados gatos que vivem em apartamento, sem acesso à rua e sem contactantes ou com contactantes nas mesmas condições. Devem ser revacinados a cada 2 anos gatos com baixo risco de exposição ao vírus, como gatos com acesso limitado à área externa. Devem ser revacinados anualmente gatos com alto risco de exposição, como gatos com acesso à rua, gatos com contactantes positivos para FeLV ou de histórico desconhecido.

 

Conclusão

A adoção de gatos portadores de retroviroses deve ser estimulada, uma vez que esses animais apresentam maior sobrevida e qualidade de vida sob os cuidados adequados. Pesquisas indicam que a maioria dos adotantes de gatos FIV/FeLV positivos tiveram boas experiências e voltariam a adotar gatos com retroviroses.

Para que se alcance excelência nos métodos de prevenção é essencial que haja uma parceria entre tutor e veterinário, podendo prover, assim, a melhor assistência possível para esses gatos, garantindo seu bem-estar.


Carlos Alberto Geraldo

M.V. MSc. Carlos Alberto Geraldo Jr

Graduado em Medicina Veterinária pela UNIPINHAL em 2002.

 Mestre em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP em 2009, sob orientação do Prof° Dr° Archivaldo Reche Jr, com ênfase nas doenças infecciosas de felinos.

 Foi Médico Veterinário contratado do HOVET-UNIPINHAL 2003-2009 (Clínica Médica e Anestesia de pequenos animais).

 Professor de Terapêutica aplicada do curso de Medicina Veterinária da UNIPINHAL em 2009.

 Professor de Clínica Médica de Pequenos Animais do curso de Medicina Veterinária da FMU de 2010 a 2013.

 Coordenador da sala de Medicina felina do Congresso das Especialidades em 2013 e 2015 e do CAT CONGRESS em 2017, 2018 e 2019.

 Nos últimos 5 anos realizou mais de 100 palestras na área de medicina felina em diversas regiões do Brasil, incluindo cursos de pós-graduação, congressos regionais e nacionais, bem como participação em cursos internacionais e conferências on-line. 

 Há 11 anos atuando como Médico Veterinário da Clínica de Especialidades Vetmasters, com atendimento exclusivo a felinos. 

 Sócio proprietário da Clínica MasterCat em Jundiaí, realizando atendimento exclusivo a felinos desde 2018, sendo a única clínica especializada em gatos da região.

 Membro associado da American Association of Feline Practitioners