Gatos, Imunização

Atendimento Cat Friendly

A popularidade dos felinos tem crescido muito nos últimos tempos, sendo o gato hoje o animal de estimação mais popular nos EUA, no Canadá e nos países nórdicos europeus. No Brasil, a população felina tem crescido aproximadamente 8% ao ano, uma proporção superior à canina.

Apesar disso, a frequência de visitas de felinos às clínicas veterinárias ainda é muito menor que a dos cães. Isso acontece, pois muitos tutores enfrentam empecilhos ao levar seu gato ao veterinário: a dificuldade do transporte até o estabelecimento, a possibilidade de estressar o seu animal, vergonha do comportamento do animal durante o atendimento e a maneira como o veterinário e a equipe interagem com o seu animal. Com frequência tutores de gatos relatam experiências negativas em clínicas e hospitais veterinários, havendo os que acreditam que a experiência traumática é mais prejudicial à saúde do gato do que a falta de cuidados veterinários.

Particularidades dos felinos

Os gatos possuem diversas peculiaridades, sendo animais extremamente estressáveis quando comparados aos cães, e que escondem sinais de doença e dor em razão de sua natureza de predador. A limitada compreensão sobre como os gatos se comportam perante o medo e a dor contribui para visitas tardias ao médico veterinário.

O estresse felino pode gerar agressão, dificultando o atendimento veterinário como um todo, tornando a realização do exame físico completo difícil ou até mesmo impossível, além de gerar alterações de parâmetros tanto físicos como laboratoriais, interferindo nos diagnósticos e condutas terapêuticas.

É comum o animal estressado apresentar taquicardia, aumento da frequência respiratória, dilatação das pupilas, hipertermia, evacuação de conteúdo da bexiga, intestino e das glândulas anais, hiperglicemia por estresse com ou sem glicosúria, leucocitose fisiológica de estresse pela liberação de catecolaminas e hipertensão.

O manejo adequado, desde a saída de casa até o seu retorno reduz os níveis de estresse produzidos e permitem um exame clínico mais elaborado e com menor variação de parâmetros vitais, além da satisfação de seus tutores.

Entendendo o paciente felino

A personalidade dos gatos pode variar desde os mais dóceis e sociáveis aos mais insociáveis e ferais. Por isso, entender a comunicação e linguagem corporal dos felinos é de extrema importância. Dessa forma, somos capazes de identificar sinais de estresse, agressividade, relaxamento e prazer.

Gatos respondem a situações de perigo fugindo e escondendo-se, sendo importante sinalizar que a ausência de reação não sinaliza falta de dor ou falta de ansiedade e sim de medo e desconforto.

O medo é a causa mais comum de agressividade dos gatos, sendo imprescindível reconhecer os sinais a fim de evitar situações de desconforto.

Deve-se observar o posicionamento das orelhas, a postura corporal e os movimentos da cauda são indicativos de medo e agressividade, assim como alterações em face e pupilas, que indicam ansiedade. Mudanças na vocalização também são sugestivos de estresse.

Manejo

O cuidado com o paciente felino deve iniciar desde o momento em que ele está em sua casa. A caixa de transporte pode ser um fator de estresse se associado às visitas ao veterinário e se colocado a força. O ideal é que o gato tenha a caixa de transporte como algo familiar e que ele entre por conta própria. Para isso, é importante deixar a caixa disponível em casa para que ele possa explorá-la e que dentro dela tenham itens com cheiro familiar como roupas ou brinquedos. Feromônios sintéticos também podem ser utilizados na caixa de transporte. As caixas de transporte ideais são aquelas que permitem a remoção da metade superior, permitindo o manuseio do animal com maior facilidade. No veículo, é importante que a caixa de transporte esteja firmemente segura (pelo sinto de segurança ou no chão entre os bancos), pois os movimentos do veículo podem causar insegurança e assustar o gato. É interessante o uso de uma toalha ou pano para cobrir a caixa de transporte até o momento da consulta, evitando assim estresse por contato visual.

Ao chegar na clínica, o ideal é que a sala de entrada e espera seja separada para os felinos, minimizando o contato entre cães e gatos. O tempo de espera para o atendimento também deve ser o menor possível para garantir o bem-estar do paciente.

O uso de feromônios sintéticos na sala de espera, consultório, internação e até mesmo nas toalhas de contenção e vestimenta médica são indicados.

Nas consultas, a presença do tutor pode fazer com que o gato se sinta mais seguro, facilitando a manipulação do veterinário. No entanto, tutores receosos ou agitados, que repreendem o animal podem contribuir com fatores de estresse, e pode ser necessário que se peça educadamente ao cliente para sair da sala. Alguns animais se mostram menos agressivos quando afastados do tutor.

Enquanto realiza-se anamnese completa, pode-se deixar a caixa de transporte aberta, permitindo que o gato saia por conta própria, o que confere a ele uma sensação de segurança.

Para o exame físico, deve-se evitar colocar o animal sob superfícies frias e escorregadias. É uma boa ideia utilizar de cobertores ou peças de roupa familiares para o gato sobre a mesa. Caso o gato fique tenso ou agitado durante o exame físico, o mesmo deve ser interrompido temporariamente, permitindo que ele se acalme. Se necessário pode ser utilizada toalha para cobrir a cabeça do gato, eliminando contato visual com o meio, ou cobrir o animal inteiro, de forma a mantê-lo embrulhado confortavelmente e ir descobrindo as áreas de interesse conforme for progredindo o exame físico. 

Alimentos palatáveis como petiscos podem ser utilizados para alterar estados de medo e ansiedade para prazer, assim como podem ser usados par reforçar comportamentos positivos.

Caso o estresse não seja controlável, o reagendamento da consulta pode ser a melhor opção. Gatos muito ferais podem se beneficiar do uso de psicofármacos como Gabapentina administrada 1 a 2 horas antes da consulta.

Para que a realização dos exames ocorra da melhor forma possível alguns materiais e equipamentos são mais indicados, como balanças pediátricas, seringas de 1 a 3 ml, agulhas de pequeno calibre e termômetros com mensuração rápida (3 a 10 segundos).

Nas coletas de sangue, muitos gatos toleram bem a coleta jugular, no entanto outros não permitem a contenção para esse tipo de coleta, sendo mais apropriada a coleta nas veias cefálicas ou safenas mediais.

O retorno para casa também faz parte do manejo adequado do paciente. Ao voltar de uma consulta clínica ou hospitalização o gato pode perder seu cheiro familiar, o que pode fazer com que os outros gatos da casa não o reconheçam e o ataquem. Ao chegar em casa o ideal é que o gato fique por algum tempo dentro da caixa de transporte, até que os demais se acalmem. O feromônio sintético também funciona como uma boa ferramenta para a reintrodução do gato à casa.


Carlos Alberto Geraldo

M.V. MSc. Carlos Alberto Geraldo Jr

Graduado em Medicina Veterinária pela UNIPINHAL em 2002.

 Mestre em Clínica Veterinária pela FMVZ-USP em 2009, sob orientação do Prof° Dr° Archivaldo Reche Jr, com ênfase nas doenças infecciosas de felinos.

 Foi Médico Veterinário contratado do HOVET-UNIPINHAL 2003-2009 (Clínica Médica e Anestesia de pequenos animais).

 Professor de Terapêutica aplicada do curso de Medicina Veterinária da UNIPINHAL em 2009.

 Professor de Clínica Médica de Pequenos Animais do curso de Medicina Veterinária da FMU de 2010 a 2013.

 Coordenador da sala de Medicina felina do Congresso das Especialidades em 2013 e 2015 e do CAT CONGRESS em 2017, 2018 e 2019.

 Nos últimos 5 anos realizou mais de 100 palestras na área de medicina felina em diversas regiões do Brasil, incluindo cursos de pós-graduação, congressos regionais e nacionais, bem como participação em cursos internacionais e conferências on-line. 

 Há 11 anos atuando como Médico Veterinário da Clínica de Especialidades Vetmasters, com atendimento exclusivo a felinos. 

 Sócio proprietário da Clínica MasterCat em Jundiaí, realizando atendimento exclusivo a felinos desde 2018, sendo a única clínica especializada em gatos da região.

 Membro associado da American Association of Feline Practitioners