Cães, Imunização

Devemos ter medo de vacinar nossos pets?

Estamos em plena pandemia, como todos sabem, causada por um virus, um coronavírus. Qual a alternativa para que toda essa tragédia seja amenizada, para que os números dessas perdas diminuam? A vacinação! Sem duvidas, essa é a principal resposta. As expectativas do mundo todo estão voltadas para o anseio de que as vacinas empregadas reduzam todo o mau que estamos vivendo.

Infelizmente nesse contexto existem as pessoas que são anti vacina. Movimentos também de proporção mundial, que apregoam os malefícios que as vacinas podem trazer. Como qualquer conduta usada na prevenção ou no tratamento, a vacina tem seus prós e contra. Uma equação fácil de se resolver é: os benefícios superam os malefícios? Esse é um risco que sem duvida deve ser corrido.

Na medicina Veterinária não é diferente e por vezes nos deparamos com tutores que tem medo, que não querem vacinar, que questionam se de fato precisamos fazer todas aquelas vacinas. Será que ele (a) corre o risco de pegar tanta doença assim? Essa vacina funciona mesmo? Colocações como essas realmente fazem parte do cotidiano.

Não se pode esquecer do famoso conceito de imunidade em grupo/ de rebanho, aquele que quanto mais indivíduos na população vacinado, maior é a chance de proteger aqueles na população que por ventura não possam ser imunizados. Contudo estamos bem longe de imunidade de rebanho para as principais doenças que possuem uma profilaxia de vacina dentro da medicina Veterinária, como seria o caso da cinomose e parvovirose. Diante da nossa população de cães e gatos, ainda é a minoria que tem acesso a vacinação, em especial aquelas vacinas que não são ofertadas em campanhas vacinais, como é o caso da vacina anti rábica, única vacina ofertada. Mesmo esta, uma vacina fundamental em um país onde a raiva ainda não foi erradicada, como o nosso Brasil, ainda assistimos aqueles que argumentam: precisamos fazer esta vacina mesmo? Ele mora em apto e não sai.... Por vezes é necessário se debruçar sobre argumentos como: Senhor, um dos grandes riscos no nosso país é a disseminação do vírus rabico pelos morcegos, eles uma vez que estejam infectados mudam o seu comportamento e adentram o domicílio sem medo de virar uma presa facil e seu cão ou gato pode caçá-lo e assim ser contaminado”.

Além do mais, o Brasil é um país com diferentes cenários, o que gera a preocupação em reduzir ou restringir vacinas. Não é raro se ouvir a afirmativa de que a vacinação contra o vírus rábico não deveria ser anual, a frequência deve ser menor, como a cada 02 ou 03 anos. O mesmo tipo de colocação é feito com a polivalente. Essas duas são consideradas essenciais em todas as diretrizes de vacinação, trazem proteção frente a doença letal, como a raiva que é um zoonose gravíssima; assim como protegem os animais de doenças letais a estes, como cinomose e parvovirose. Um velho lema acerca da imunização de cães e gatos é: devemos vacinar o maior numero de animais possível.  Assim doenças graves serão consideravelmente reduzidas. Um exemplo das diferentes realidades do Brasil é a prevalência da cinomose que varia de menos de 10% a até 50% , a depender da região. Esta discrepância demonstra que reduzir a frequência de vacina em uma região de elevada prevalência da doença não deve ser uma estratégia adotada. A propósito, sabemos a prevalência em todas as regiões Brasileiras? Definitivamente a resposta é não! Assim, estratégias as cegas são cercadas de insucesso e portanto seguir os protocolos recomendados é o mais adequado. No quadro 1, temos o esquema recomendado pela diretriz publicada para o Brasil.

Mas, em animais que recebem as vacinas consideradas essenciais anualmente já a alguns anos, como por exemplo há mais de 5 anos, podem passar a receber as mesmas vacinas a cada 02 ou 03 anos? Existe segurança e garantis para esse protocolo? A resposta é não! Vários fatores podem restringir a segurança nesta conduta,  dentre eles cita-se:  Resposta individual no quesito títulos de anticorpos produzidos frente a cada antígeno vacinal; prevalência de cada doença em diferentes regiões; risco de exposição aos vírus devido aos hábitos de vida e a situação de vulnerabilidade. Contudo, ainda é possível medir os níveis de anticorpos (IgG) a inúmeros vírus, comumente as sorologias são feitas para o vírus da raiva em animais que vão viajar pra Europa. Títulos para diversas doenças é possível ser feito e assim avaliar se o animal tem anticorpo frente a esses vírus específicos. De posse desses exames idealmente se define a necessidade de reforços vacinais. Porém, diante dos custos há restrições da execução desta prática e a vacina regular nos intervalos recomendados pelos laboratórios ainda é o mais recomendado.



Romeika Reis

Romeika Reis

Formada em Medicina veterinária pela UFERSA em 2001

Mestrado na UFRRJ em 2003

Professora de Dermatologia da pós Graduação da Equalis nos cursos de Dermatologia e Clínica Médica