Biosseguridade, Coccidiose, SAÚDE INTESTINAL

Rotação como chave para manutenção da eficácia dos anticoccidianos

Muitos fatores podem interferir na patogenicidade e perfil de sensibilidade à drogas das Eimerias, como por exemplo região geográfica, exposição prévia a outras drogas e uso de uma mesma droga por muito tempo sem rotacionar.

O uso contínuo de anticoccidianos tem o potencial de levar a alterações genéticas nas Eimerias que, por consequência, podem reduzir a sensibilidade das mesmas aos anticoccidianos mas infelizmente ainda não temos métodos moleculares práticos para avaliar estas alterações. Por isso, se fazem tão importantes os testes de sensibilidade aos anticoccidianos (AST) que, realizados in vivo e complementares à demais metodologias de avaliação de performance de anticoccidianos, permitem avaliar uma série de características comparativas entre diferentes moléculas e associações. Os parâmetros avaliados em ASTs podem variar desde escores de lesão, parâmetros de desempenho como conversão alimentar (CA), ganho de peso (GP) e mortalidade, até a junção de vários parâmetros em fórmulas que geram índices para comparação.

Seguem abaixo algumas imagens que ilustram diferentes níveis de desafio por coccidiose em intestino de aves necropsiadas:

Intestino acometido por E.acervulina

Intestino acometido por E.acervulina

Jejuno acometido por E.maxima

Jejuno acometido por E.maxima

Ceco acometido por E.tenella

Ceco acometido por E.tenella

Independentemente do método escolhido para avaliar a sensibilidade aos anticoccidianos, é importante buscar soluções que trarão maior retorno e sustentabilidade para o negócio. Na avicultura moderna, o controle efetivo da coccidiose está relacionado ao bom uso das ferramentas disponíveis, sendo as boas práticas de criação e drogas profiláticas a primeira linha de atuação, seguida por vacinas e produtos alternativos.

Em nosso recente estudo publicado na revista Poultry Science (Kraieski et al., 2021), tivemos como objetivo avaliar a sensibilidade de isolados de E. acervulina (EA) e E. maxima (EM) oriundos de 3 diferentes regiões do Brasil, por meio de 4 ASTs. Amostras de 6 -7 kg de fezes foram coletadas nas regiões de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, das quais foram filtrados, identificados e quantificados oocistos para realização de 2 ASTs com EA e 2 com EM.

Cada AST teve o mesmo desenho experimental (240 aves, compondo 4 repetições de 6 aves por tratamento), sendo um grupo controle não desafiado e não medicado (T1), controle desafiado e não medicado (T2) e os demais grupos desafiados e tratados com as seguintes moléculas: lasalocida (90 ppm – T3), maduramicina (6 ppm – T4), decoquinato (30 ppm – T5), nicarbazina+semduramicina (66 ppm – T6), monensina (110 ppm – T7), salinomicina (66 ppm – T8), narasina+nicarbazina (100 ppm – T9), e nicarbazina (125 ppm – T10).

Ao final de cada AST (20 dias), foi calculada a diferença percentual (delta) entre o grupo tratado (T3 a T10) e o grupo controle (T2) para as variáveis ganho de peso, conversão alimentar, escore de lesão e um indicador de porcentagem de ótima atividade dos anticoccidianos (POAA). Foi possível identificar diferentes níveis de sensibilidade dos isolados de EA e EM, sendo que de maneira geral, os grupos T5 (decoquinato) e T3 (lasalocida) apresentaram maiores deltas em relação ao grupo controle (T2 – desafiado e não medicado). Já a menor sensibilidade frente aos isolados foi observada nos grupos T4 (maduramicina) e T7 (monensina).

Uma hipótese para as moléculas decoquinato e lasalocida terem apresentado os maiores efeitos sobre ganho de peso, conversão alimentar e escores de lesão, seria que essas drogas estariam “descansadas” pela baixa frequência de uso nos programas de anticoccidianos das empresas avaliadas, gerando a restauração da sua sensibilidade. O mesmo poderia se esperar das moléculas que apresentaram a menor sensibilidade, se as mesmas passarem por um momento efetivo de “descanso” no campo. É importante ressaltar que em nossos estudos, os oocistos não foram propagados em aves vivas, mas filtrados e utilizados diretamente como inóculo, o que minimiza a seleção de oocistos.

Embora combater a redução da  sensibilidade aos anticoccidianos seja uma tarefa difícil, programas Shuttle e rotação de moléculas são abordagens que ajudam a prevenir ou postergar seu surgimento. No programa Shuttle, diferentes drogas são alternadas dentro de um mesmo lote de criação, enquanto na rotação, diferentes drogas são alternadas depois de um ou vários ciclos de criação ou períodos sazonais. Estritamente falando, rotacionar entre um ionóforo monovalente e outro da mesma classe pode ser considerado “rotação”, porém levando em consideração que pode existir resistência cruzada dentro de uma mesma classe de ionóforos, a relevância desse tipo de rotação poderia ser questionada. Neste sentido, uma rotação mais efetiva poderia envolver a rotação entre um ionóforo monovalente (monensina, narasina, salinomicina, semduramicina, maduramicina) e um divalente (lasalocida). Da mesma forma, quando pensamos nas associações disponíveis no mercado para o controle da coccidiose nas fases iniciais da produção de frango de corte, as soluções propostas são todas compostas de nicarbazina + ionóforo. Para alcançar o potencial máximo do resultado esperado de rotação de moléculas, a rotação também deve considerar e prever o “descanso” da nicarbazina, sendo uma opção a sua rotação com o decoquinato, por exemplo. A Rotação de moléculas, quando utilizada de forma racional, ajuda na restauração da eficácia das drogas que temos disponíveis, pois promove um período de descanso entre moléculas. Outro meio de restaurar a eficácia das drogas é o uso de vacinas vivas, pois essas alteram a população de oocistos sobre a cama com cepas vacinais sensíveis.

Saber o nível de sensibilidade das diferentes Eimerias do campo de cada empresa é importante para tomar decisões mais assertivas quanto ao manejo rotacional das drogas, buscando preservar a eficácia das moléculas existentes e atingir ótimos níveis de prevenção da coccidiose com ganhos expressivos em produtividade.

Apesar da perda de sensibilidade aos anticoccidianos acontecer em níveis diferentes para cada molécula, a  a rotação baseada em estudos de sensibilidade pode identificar oportunidades de ganhos de performance e econômicos.

Confira abaixo um vídeo explicando a plataforma ROTECC, o jeito Zoetis de trazer solução personalizada na rotação de anticoccidianos.

Autor:

Antonio Kraieski – Médico-Veterinário | Msc. | Serviços técnicos – Aves

Antonio Kraieski

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